05 - RIOS DE NOSSAS VIDAS: RIO SÃO FRANCISCO, RIOS DE LÁGRIMAS, RIOS DE SAUDADE, RIOS DE CACHOEIRA
Fernando Mauro Ribeiro
5 de mar. de 2022
3 min de leitura
No dia 22 de março celebra-se o Dia Internacional da Água. Era minha intenção escrever um artigo sobre o tema, e eu passaria um dia inteiro falando ou escrevendo sobre a Água. Falaria do nosso Velho Chico que, sobre o qual li, há algum tempo, um artigo em que dizia estar o nosso rio São Francisco mais morto do que vivo. Depois de algum tempo, Maíza me apresentou um vídeo destacando sua beleza, generosidade e sua força desde sua nascente, passando por cada cantinho desse e de outros Estados que ele visita, levando suas águas, levando alegria, gerando vida; um documentário que me impactou bastante.
Não só pela narrativa poética de quem o produziu, mas pelas belezas indescritíveis, a importância de sua existência, sua história e dezenas de outras histórias que ele inspira por onde passa e, não tenho dúvidas de que, também por essa relação que tenho com a água. Sou filho de uma Cachoeira e, como se não bastasse; uma Cachoeira Alegre. Talvez, venha daí esse meu encantamento com as águas, rios, riachos, ribeirões, cascatas, represas, açudes, lagos e lagoas, e mares. Também sou um ribeiro. Não que eu faça parte da população ribeirinha, mas, porque tenho Ribeiro como sobrenome.
As chuvas que foram notícias aqui, contribuíram muito para a revitalização do rio São Francisco e outros rios evidentemente. Vi, outro dia numa emissora de televisão, que o velho Chico ganhou vida, está mais belo e feliz com o volume das águas que lhes foram destinadas. E se ganhou vida, está mais belo e feliz; ele segue se doando, sendo vida, levando alegria e felicidade.
Me dou conta de que não consigo ir além. Fui tomado por uma avalanche de lembranças, saudades antigas e recentes e mudo radicalmente o rumo dessa conversa. É que a saudade dá, vez em quando, uma “incerta”, ela aperta e então, apresso-me em lançar-me nesse lago, porém, permitindo que o barco da saudade me conduza...
Lembro-me aqui do saudoso amigo que “partiu antes do combinado”, quando falávamos de uma incursão pelos rios e ribeirões de Cachoeira Alegre e também do município, para escrever um capítulo sobre a Hidrografia, para o meu livro. Olavo seria uma espécie de guia, tendo inclusive me fornecido nomes de alguns ribeirões que desaguam no nosso Cachoeira Alegre e, depois ele dizia do imponente São Francisco, que nasce humilde e pequenino no alto do Parque Nacional da Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas MG. e depois de percorrer quase três mil quilômetros deságua no Oceano Atlântico.
Soube depois que, até 2002 acreditava-se que a nascente do rio São Francisco que, como eu aprendera na escola, nascia na Serra da Canastra como eu disse acima, já há quem questione e um estudo afirma que a história não é bem assim! Veja: Por meio dos estudos realizados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (codevasf), descobriu-se em 2002 que a nascente do Rio São Francisco é na verdade o Rio Samburá, localizado em Medeiros no estado de Minas Gerais. Assim, a nascente histórica é na Serra da Canastra e a nascente geográfica é o Rio Samburá.
Pois bem, o velho, mas incansável Chico, que como sabemos abrange a área dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e parte do Distrito Federal, agora revitalizado pelas águas que recebeu das últimas chuvas, segue seu curso. Também nós, seguimos aqui, nessa estrada. Às vezes, cansados, nos sentamos à beira do caminho. Alguns, se levantam e seguem – como o rio – o seu curso. Outros, mudam o percurso; são chamados a desbravar novas trilhas, buscar novos encontros, novos rumo e direção. É assim a vida. Olavo Ferreira Lacerda se foi, e bebe hoje numa Fonte de água cristalina, uma água pura, que cura, liberta e salva. Fonte esta que é o próprio Jesus. Aqui estamos nós, - pequenos riachos - a ouvir suas gargalhadas, seu riso fácil, sua alegria espontânea que jorrava como um rio.
Os grandes rios dependem de suas fontes, seja da calha principal, seja de seus tributários. Diante disso, nós, - riachos que aqui permanecemos – necessitamos ser revitalizados para garantir o abastecimento perene de nossos rios. Daí, de onde estás, nesse mar de Misericórdia, dá-nos também de beber, quero, saciada, nossa sede de saudade. Como estrategista que és, encontre uma forma de olhar por nós, de orar por nós, de regar nossa aridez para que nesse rio de saudade, enfrentando essa crise hídrica de humor, mas fértil de boas lembranças, tenhamos vida, e vida em abundância.
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