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O QUE LEVOU JUDAS A TRAIR JESUS: MANUSCRITOS INÉDITOS QUE TRAZEM A VERSÃO DO TRAIDOR, PODEM REVELAR

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • 5 de abr. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 14 de abr. de 2021

O Evangelho segundo Judas: O que levou o último dos apóstolos a trair Jesus, não se sabe. Mas resposta pode estar em manuscritos inéditos, que trazem a versão do traidor. Trago novamente para o nosso leitor em “Vale a pena ler de novo”, matéria de Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavallari, aqui publicada em abril de 2006. O que levou Judas a trair jesus ainda vai dar muito o que falar. Para Judas, nunca houve perdão.

Há mais de 2 mil anos, ele vem sendo impiedosamente castigado. Em dezenas de países, em cada sábado de aleluia, Judas Iscariotes, encarnado num boneco grotesco, é vítima de espancamento em praça pública. Além de ter entregado aos carrascos seu mestre, Jesus, ele paga pelo pior que tiver sido feito naquele ano. Assume as feições do político corrupto, do tirano estrangeiro, do delator, do jogador que fez o time perder.

Judas virou até substantivo. Significa “traidor” em dicionário português, espanhol, francês, inglês, alemão e italiano. Nem mesmo do todo-misericordioso ele ouviu uma palavra de misericórdia. “Ai daquele por quem o Filho do Homem será entregue”, disse o próprio Jesus, segundo o Evangelho de São Marcos.

Pela altura da Páscoa, deste ano, no entanto, finalmente será conhecida a versão desse criminoso. Pela primeira vez será publicado o texto de um manuscrito inédito, cuja autoria é atribuída ao próprio Judas. Identificado como o Evangelho segundo Judas, o texto integra a série de evangelhos apócrifos, cuja autenticidade não é reconhecida pela Igreja. Sua existência já era cogitada desde que Santo Irineu de Lyon, no século II, citou-o e condenou-o. Trata-se, portanto, de uma revelação arqueológica de valor incalculável.

Depois de 1.600 anos, finalmente será lido um texto antes inacessível, capaz de lançar luzes sobre os primórdios do cristianismo, com uma visão completamente original da traição que teria leva Jesus à cruz.

De acordo com relatos de especialistas que tiveram acesso ao manuscrito, Judas afirma, em sua versão da história, que não traiu Jesus. A delação aos sacerdotes judeus teria sido, segundo o manuscrito, um desígnio divino, para que o Filho de Deus sofresse o martírio e salvasse os homens. Judas também afirma, de acordo com os relatos, que não se enforcou depois. Arrasado pela culpa. Teria sido perdoado por Jesus e orientado a se retirar para fazer exercícios espirituais no deserto.

O que mais os manuscritos revelam não se sabe. Por enquanto, eles são mantidos em absoluto sigilo, nas mãos da Fundação Maecenas, da Basileia, na Suíça, enquanto são traduzidos do egípcio antigo (o copta) para o inglês, francês e o alemão.

Como o Evangelho de Judas é muito posterior ao tempo em que os eventos teriam ocorrido, não se pode nem mesmo tentar buscar algo nele sobre a figura histórica de Judas. Hoje, o que se sabe de Judas está nos Evangelhos de João, Mateus, Marcos e Lucas e no Ato dos Apóstolos, um breve relato dos primeiros tempos da Igreja.

É bem pouca coisa. Filho de Simão Iscariostes, Judas é sempre o último dos 12 apóstolos a ser citado pelos Evangelhos. A traição é citada no momento em que Jesus falava a seus discípulos no Getsêmani, ou Jardim das Oliveiras, fora dos muros de Jerusalém. No relato dos evangelistas, Judas chega acompanhado de uma multidão, armados com paus e espadas.

Ao se aproximar do Mestre, beija-o na face. O gesto de amor é sinal de traição. Os enviados dos sacerdotes judeus prendem Jesus e tem início o martírio. Em troca, o delator recebe trinta moedas de prata. Atormentado pela culpa, enforca-se em uma árvore. Com o dinheiro, os sacerdotes compram um terreno para instalar um cemitério.

Nas cartas de Paulo, Judas nem é citado. O Evangelho de Marcos, cronologicamente, a primeira das narrativas sobre a vida de Jesus, deu a ele 169 palavras e o apresenta como aquele “que o entregou”. À medida que o tempo vai passando, a discussão sobre o papel de Judas, parece ocupar mais as comunidades cristãs primitivas, e o personagem ganha cada vez mais espaço.

Em Lucas, passa a ser citado como “o traidor” e Satanás entra em seu corpo. O texto também deixa claro que a delação não terá perdão. João, o último dos evangelhos, utiliza 489 palavras para retratar Judas como uma figura demoníaca.

A controvérsia sobre o papel de Judas, se espalhou para além dos evangelhos e tem ecos até hoje no cinema em que retratou o traidor arquetípico como se ele tivesse motivações humanas e até justificáveis. No filme “O Rei dos Reis”, de 1927, Judas está apaixonado por Maria Madalena e trai Jesus por ciúme. Em Jesus Cristo superstar, sucesso de bilheteria em 1973, Judas aparece como alguém mais atraído pela luta armada que pela pregação de Jesus.

O argentino Jorge Luiz Borges conclui, em seu conto “Três versões de Judas”, que o suposto delator é, na verdade, o verdadeiro salvador da humanidade, por ter tornado possível a Paixão de Cristo. Até Raul Seixas e Paulo Coelho compuseram, em 1978, uma canção que, lida ao pé da letra, repete o ensinamento do suposto Evangelho de Judas:

“Parte de um plano secreto \ Amigo fiel de Jesus \ Eu fui escolhido por Ele \ Para pregá-Lo na Cruz.

De acordo com alguns estudiosos, o evangelho de Judas não foi escrito pelo próprio apóstolo traidor. É uma composição do século II, feita por gnósticos, membros de uma seita herética do início do cristianismo. Até mesmo o uso do termo “traidor” para se referir a Judas, foi contestado. Ele pode, segundo alguns, ter sido traduzido com má intenção. A palavra original em grego, paradidomi, significa também “entregar” ou “desistir”. O professor canadense Willian Klassen, da Escola Bíblica de Jerusalém, apontou 59 citações em relação a Judas nos Evangelhos. Desse total, em 27 ocasiões ela é usada com o sentido de “deixar”, “abandonar”.

Nas outras 32 vezes, significa mesmo trair. A figura visual do traidor começou a ganhar forma nos séculos seguintes. Em pinturas medievais, Judas passou a ser retratado vestindo amarelo, a mesma cor de satanás.

O especialista americano em copta Stephen Emmel, disse que tudo aponta para o Evangelho a que se refere Santo Irineu no século II. Que revelações terá ele sobre judas]. Se de fato, o traidor cometeu o suicídio, pecado imperdoável tanto para judeus quanto para cristãos, o Judas instrumento de Deus, ficou enterrado no deserto com os manuscritos heréticos. Tem pouca chance de ressuscitar.

(matéria publicada em março de 2006 e que está de volta em “Vale a pena ler de novo”!

Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavallari,


 
 
 

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