Ainda ontem eu escrevia sobre a morte, visita ao cemitério, luto, dor, saudade... Passados os dias de festa e de choro, - me refiro ao dia de agora me pego a pensar na fragilidade humana e como a vida é efêmera Todos os Santos e ao Dia de Finados. À festa do Dia do Cachoeirense que pode ser compreendido como um encontro com a alegria, e à visita ao Cemitério, um encontro com o oposto, que entendemos como de saudade, , que entendemos como de saudade, dor, um dia triste. O riso e a dor moram na mesma rua e às vezes se encontram na mesma casa. Penso que tenham casas distintas, porém, muito próximas uma da outra. Veja que me encontro numa quarta-feira, não mais em Cachoeira, mas em meu apartamento, aqui em Muriaé tentando entender a dimensão de tudo isso. A proximidade e a distância entre dois sentimentos tão comuns a todo ser humano.
O dia de Finados já se foi. Mas, talvez, em razão disso é que no mês de novembro sejamos levados a refletir sobre a efemeridade da vida e como superar a dor da perda. Viver é um aprendizado, e experimentar perdas faz parte da nossa trajetória. Desde que nascemos, passamos por elas. Aceitá-las com naturalidade não é tão simples, pois somos humanos, o apego à matéria, às coisas e pessoas, é grande, mas à medida que seguimos em frente, é nesse caminho que adquirimos conhecimento, capacidade e sabedoria.
Quando se trata de perdas de pessoas queridas, nessa área, especificamente, provocam grande sofrimento e é preciso aprender a lidar com elas para que não se transformem em sofrimento permanente. Estamos vivendo uma situação extrema, onde muitas vidas foram perdidas para a terrível Covid-19. Você que me lê com razoável frequência sabe das perdas que experimentei, mas não sabe que não sepultei ainda as dores.
Como sepultar lembranças e saudade? Como aceitar que aqueles que amamos, que estavam bem e, de uma hora para outra, se foram? Especialmente quando não pudemos velá-los e sepultá-los com a dignidade que mereciam, pois, as normas dizem que assim deve ser, para evitar o contágio. São medidas de segurança, necessárias, eu sei. Mas, difíceis.
As perdas ferem e chorá-las é necessário. Sem dúvida, a perda de alguém querido é uma das maiores dores que o ser humano pode sentir. Para ela, nunca estamos preparados.
Deus não mandou a pandemia. Quando me questionam sobre o porquê da morte, sempre faço questão de reforçar que essa nunca foi a vontade de Deus. A morte é uma contingência humana, ou seja, faz parte da nossa fragilidade e entrou no mundo pelo Pecado Original. “Portanto, assim como por um homem só entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5,12). Disse o Pe. Reginaldo em um artigo seu.
A perda provoca em nós uma reação imediata que é chamada de luto .Trata-se de um processo que pode se estender por mais ou menos tempo, e a maneira de vivenciá-lo depende de cada um e do quão significativo é aquele ou aquilo que foi perdido. Segundo especialistas, em geral o luto é marcado, num primeiro momento, sobre o choque diante do inesperado ou do incontrolável gerando uma espécie de anestesia, principal indicador de que a perda ainda não foi assimilada.
Depois vem a fase em que a “ficha cai”, como se diz popularmente. Nela entendemos a dimensão do ocorrido, mas resistimos em aceitar; muitos chegam a acreditar que vão acordar e a realidade será outra. Quando percebemos que nada mudará, vem o sofrimento, o choro, a falta que a pessoa começa a fazer. Então, chega o momento da revolta e também da culpa, quando entra em cena o “e se”: “e se tivesse feito diferente”, “e se isso...” “e se aquilo...” Por fim, como em outras perdas, chega a aceitação e o necessário retorno à rotina.
Fiz essa detalhada descrição para enfatizar que é muito importante vivenciar o luto para, assim, conseguir superar a perda e continuar a viver. Não podemos ignorar a ausência de um ente querido, mas temos de aprender a seguir em frente apesar disso, evitando a instalação de um sofrimento desordenado e duradouro que traz consequências negativas para a saúde do corpo, da mente e do espírito.
No caso da morte, superara perda não significa esquecer aqueles que amamos e já partiram, pois, o amor não termina com a interrupção com a vida biológica. O amor é redirecionado. Os mortos não fazem mais parte da nossa vida terrena, mas continuam em nosso coração e, se dóceis à graça de Deus, no céu. A saudade e a lembrança devem ser cultivadas; o sofrimento, não.
O Catecismo da Igreja Católica, sintetizando dois milhões de sã doutrina ensina que “a união dos que estão na Terra com os irmãos que estão no Cristo de nenhuma maneira se interrompe”, lembrando que “eles não deixam de interceder por nós ao Pai”. (955-56). E, ainda “A visão cristã da morte é expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja: Senhor, para os que creem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo imortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (1012).
Por isso, não devemos nos fechar na dor, mas focar nas pessoas que estão ao nosso lado e precisam de nós, e tentar ressignificar o sofrimento. A fé é determinante para encarar a morte como início de nova etapa, e seu fundamento está na Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e na certeza de que Aquele que O ressuscitou também nos ressuscitará, como ensina São Paulo: “Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós pelo seu poder” (! Cor 6,14).
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