Há duas maneiras de se encarar a crise que se abateu sobre a economia mundial, cada uma delas correspondendo à disposição emocional das pessoas. Em primeiro lugar; temos a visão catastrófica: a crise será uma desgraça, bancos vão quebrar, empresas vão falir, pessoas perderão seus empregos.
A outra visão, ao contrário, é otimista: como o Pangloss, aquele personagem de Voltaire que, “vivia nos melhores dos mundos possíveis”, essas pessoas preferem acreditar que todo limão vira limonada. E citam aquela famosa história do ideograma chinês, que expressa a palavra “crise”, mas também a palavra “oportunidade”.
Como sempre, a verdade está no meio. Crise não é brincadeira. É uma situação difícil que faz sofrer muitas pessoas. Mas, na economia de mercado, crise é praticamente inevitável, porque esta economia é cíclica. É cíclica porque é movida não apenas pelo cálculo, pelo planejamento, como também pelas emoções.
Emoções por sua vez, com coisas viscerais, correspondem não raros a impulsos do organismo, que também opera por ciclos: inspiramos e expiramos, trabalhamos e descansamos – o nosso coração funciona por sístoles e diástoles. A crise pode ser vista como uma pausa, um período de reflexão, de reacomodação.
Nesse sentido até funciona como uma oportunidade, mão não é uma oportunidade que cai no colo, é uma oportunidade que exige serenidade e raciocínio claro para ser aproveitada.
ESTE É OUTRO PONTO QUE PRECISA SER ENTENDIDO.
Nos seus extremos, as oscilações da economia podem ser vistas como manifestações exacerbadas dos fatores emocionais antes mencionados. Se a gente tivesse de classificar essa situação como uma doença, que nome seria]. A doença bipolar. Aquela em que períodos maníacos (a exuberância irracional de que falava Alan Greensan, antigo diretor do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), alternam-se com depressão. Num momento tudo é ótimo, excitante: no momento seguinte, a economia está no abismo.
Seria necessário, talvez, um imenso divã em que se deitariam lado a lado, empresários, banqueiros, operadores da Bolsa de Valores, investidores e formadores de opinião. Ao lado deste divã, o psicanalista mais sábio do mundo, interpretando os sonhos e as ilusões, os temores e as fantasias delirantes. E enquanto isso não for possível, temos de aproveitar nossos divãs particulares, deitar neles e procurar entender o que se passa. Não evitaremos a crise, mas, sem dúvida, aprenderemos com ela.
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