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9 - TRÊS AMORES EM TRÊS TEMPOS, SOB UM MESMO TETO

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • 9 de set. de 2021
  • 5 min de leitura

AMORES, SAUDADES, PAIXÕES...

Deem a essa matéria, o título que melhor lhe couber, isso, depois de lê-la. Se é que deseja conhece-la, obviamente. Posso ao final do artigo sugerir alguns.

Primeiro Ato: Dizem que a dor do amor é aguda, mas profundamente fecunda. Nela há uma infinidade de sementes esperando pelo direito de nascer. Me demoro, às vezes! Será que há de fato um prazo específico, registrado em cartório para se viver um luto]. Não sei, realmente, mas na minha primeira perda, foram dois anos de angústia e solidão, de um isolamento em que tentava sorrir, trazendo lágrimas no olhar. Foi assim, como um resto de sol no mar, como a vida na preamar que me disseram que chegara o fim.

Perda, luto e dor geram também aprendizagem: Assim, a tristeza, esse sentimento estranho que nos desinstala tanto, pode ser uma verdadeira fonte de virtudes, mas preciso organizar o meu luto para que o tempo inicie o processo de cura. Não sei se colocar fim nele... talvez seja necessário ainda um tempo maior. Entretanto, por outro lado, entendo que não se deve prolongar o tempo do sofrimento, estender o tempo da dor.

Segundo Ato:

E foi ainda, trafegando pelo caminho da dúvida, que as mãos de Deus me trouxeram novo presente, como que a dizer-me: Viva um novo amor. E eu o vivi intensamente. E outra vez, foi assim: como a flor e o luar se deu, quando o mundo era quase meu, “tu te fostes de mim”! Entendi, então que, antes mesmo de querer alento para minha dor, devo experimenta-la com profundidade. A dor é minha, o chão da realidade é meu, e não é possível que dor e solo sejam tão inférteis. A vida não cabe nos nossos conceitos, mas nos escapa o tempo todo, escorre pelos vãos dos dedos, foge de nós. Por isso ficamos contraditórios pois não estamos familiarizados com a linguagem das contradições.

FORAM QUATRO ANOS DE SAUDADE E SOLIDÃO

Ainda ontem, chorei de saudade. Sim, quatro anos depois, a saudade vai se tornando mais suave, as lembranças vão se recolhendo a alguma gaveta do desconhecido, a saudade, esta sim, é insistente, mesmo não sendo como antes, implacável; ela parece ser a última hóspede a aceitar deixar a nossa casa interior. Ela é, hoje, algo que, se não se ausentou de vez, já posso vê-la lá adiante, na estrada do tempo, a acenar-me com um sorriso tímido, mas, ainda provocador.

A tristeza que a perda provoca me ausenta de mim mesmo. O peso da saudade me amarra ao solo de minha realidade e se estabelece o impasse: Como voltar a sonhar, como reorganizar os afetos? Vez em quando brinco de pique esconde à procura de minha alma escondida na casa das palavras. É que, às vezes, elas se ocultam nas entrelinhas. Elas são os descampados ainda não construídos, mas são parte desse conjunto.

Pergunto-me: o que e como farei?Sei que os seus olhos não poderão mais ler estas palavras. Não importa. Meu desejo é simples, e hoje ele é tudo que possuo. Não tenho como remeter-lhes minhas últimas palavras. Esbarro no limite do tempo, que soberano e contínuo define os acontecimentos e a ele nos condiciona. Eu escrevo porque andei guardando durante muito tempo este punhado de palavras, e hoje reconheço que já não tenho mais como segurá-las dentro de mim. São palavras demoradas porque estão aqui desde a notícia de sua morte. Já que não tenho correio que possa entrega-las a você, não as quero trancafiadas na minha mente, prefiro sepultá-las num espaço que cavei no jardim do meu coração. Um dia ele lhe contará minhas notícias”!

Quero cumprir o mesmo processo dos jardins. Quero ressuscitar todo dia, assim como as sementes ressuscitam na terra. A ressurreição requer morte. A morte é inevitável para quem deseja florir no tempo certo.

Apático, não encontro caminhos que me conduzam a novos horizontes e me façam novamente sonhar. Preciso de sonhar novos sonhos. É triste o destino de um rio sem afluentes. Como um rio sem afluentes não encontro forças para chegar, para atingir a minha meta. Um rio só chega ao mar depois de ter recebido outros rios pelo caminho. Também eu, não vou muito além, se não me abro. Se não recebo, não posso fluir e decididamente não vou desaguar e será a estagnação.

Há amizades revoltas, que causam barulho, que fazem alarde, há amizades silenciosas que desaguam em nós, num murmurar quase inaudível, há ainda as amizades antigas que pouco se manifestam, há aquelas quase ocultas porque não sinalizam, mas estão ali, há as exigentes e irrequietas que pedem atenção... Mas, todas elas necessárias. É muitas vezes, na anarquia do percurso ou sussurro silencioso que o rio vai se agigantando. É na solidariedade dos encontros que ele vai contornando os obstáculos, deixando de ser só, tornando-se outro. Quero cumprir o mesmo processo dos jardins. Quero ressuscitar todo dia, assim como as sementes ressuscitam na terra. A ressurreição requer morte. A morte é inevitável para quem deseja florir no tempo certo.


Terceiro Ato:

O AMANHECER DE UM NOVO DIA

Ando necessitado de dizer quem sou. Careço de encontrar alguém a quem eu possa retirar as máscaras, mostrar o coração. A dificuldade que enfrento no momento parece desvendar outros obscuros que trago em mim. Estou inadequado. Experimento e constato essa inadequação nas pequenas coisas. Estou precisando confessar meus medos. Confissões, às vezes, amenizam e nos mostram que o egoísmo tem sabor amargo; que “Hoje é o amanhã que tanto nos preocupava ontem”.

Apresento-vos uma lembrança boa da década de 80, que me visitou a pouco e, que me faz crer que “o mundo não deve ter fronteiras, mas horizontes”. Ela veio acondicionada de um envelope colorido e no seu interior um encarte e um disco com uma dedicatória. Esse objeto adentrou a minha casa em forma de alegria, trazendo-me felicidade. Eram outros tempos, década de oitenta e, eu tantas vezes ouvi a canção sugerida, a faixa grifada no elepê. O disco permanece na discoteca, o encarte, a dedicatória e a música que ainda ecoa em meus ouvidos. Cumpriu sua função: por algum tempo me fez sorrir no palco da existência. Me dou conta agora, de que esse mesmo parágrafo, escrito na década de 80, está sendo reescrito hoje, com outras tonalidades:

Os relâmpagos e trovões que riscavam e roncavam no meu céu estão se dissipando e deixam no poente, clarões alaranjados... meu céu interior já tem cores. Um sentimento adormecido há décadas, está despertando, agitando bandeiras e, ainda que seja apenas um aceno, trás consigo, um vendaval de desejos e sonhos não revelados. Isso, porque aprendi que cada dia que amanhece vem carregado de sonhos e esperanças, e que: Viver é esperar!

Deus mora onde o deixam entrar. E uma fresta na porta é o suficiente. Já ouvi que: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para frente”. Prometemo-nos que caminharemos com os olhos votados para o horizonte. Que seja assim!

Fernando Mauro Ribeiro.

Sugestões:

Palavras: não as quero trancafiadas

Amores, Saudades, Paixões

Quatro anos de saudade e solidão.

Ontem chorei sim, hoje; não!

Há alguém que me devolveu a alegria.

O amanhecer de um novo dia

Fernando Mauro Ribeiro

 
 
 

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