30 - MORREU O EDSON. PELÉ É ETERNO: O BRASIL E O MUNDO O REVERENCIA
Fernando Mauro Ribeiro
30 de dez. de 2022
5 min de leitura
Eu dizia ontem em uma materia que “é difícil decidir sobre o que escrever para um artigo, informando a morte de Pelé”. Hoje, lanço mão de uma materia que li, a pouco, para registrar esse fato. Disponho de pouco tempo, em razão dos pereparativos para as festas de fim de ano, e não conseguiria escrever um texto tão bom quanto o que lhes apresento, transcrito do jornal extra, o caderno especial do jogo extra, todo ele dedicado ao Rei do Futebol, cujo título é: “Adeus ao Rei”, de autoria de Thales Machado. Veja a seguir:
ADEUS AO REI
É difícil escolher qual o anúncio ideal para se abrir um texto que pretende informar que morreu Pelé. O correto é dizer que morreu o maior futebolista de todos os tempos, para se focar naquilo que ele fez de melkhor, ao destilar o seu talento pelos campos do mundo? Ou melhor englobar mais, e dizer que se foi o mais esportista da humanidade, já que é difícl pensar noutro atleta que tenha encantado mais o planeta? Ou o correto é entender que Pelé superou os limites do esporte, e como somos seus eternos conterrâneos, noticiar que não está mais entre nós o maior brasileiro de todos os tempos?
Das dúvidas, a certeza de que morreu ontem, aos 82 anos, em decorrência da falência de múltiplos órgãos, resultado da progressão de câncer de cólon, alguém que parecia imortal.
Do nascimento, em Três Coraçõers – Mg, em 23 de outubro de 1940, à morte em São Paulo, em 29 de dezembro de 2022, Pelé fez muito para ganhar esse ar de imortalidade. A distância de pouco mais de 300 km entre a cidade em que nasceu e a que faleceu, é curta, se comparada ao tamanho da trajetória desse brasileiro que brilhou nos quatrio cantos do mundo, Campeão Mundial com O Brasil na Suécia, Chile e México, e com o Santos, em Portugal e também no Maracanã, no Rio de Janeiro. As duas Libertadores foram conquistadas em Buenos Aires, na Argentina.
Nos gramados nacionais, foram seis brasileiros, 10 paulistas e 3 Rio São Paulo conquistados também com o time paulista. Entre clube e seleção, foi artilheiro de 18 torneios oficiais. Os 1282 gols na carreira, - variados, contra combinados e grandes seleções. Mas três deles, em finais de Copa do Mundo, causaram tanto espanto quanto incômodo em quem insiste em argumentar que houve alguém como Pelé. Não houve.
QUEM O VIU JOGAR, SE ENCANTOU E JAMAIS SE ESQUECERÁ
Honrarias, ordens, prêmios de méritos, recordes pessoais, Cargos, nomeações, homenagens. A lista de tudo aquilo que Pelé tem é imensa, e ainda assim, só resume aquilo que foi. Porque quem o viu jogar, se encantou de uma maneira em que não há lista – mesmo que ele esteja no topo – capaz de transmitir o sentimento, o encantamento, o êxtase.
Especialmente nas Copas do Mundo. Se é difícil saber o enunciado ao falar de sua morte, também não é missão fácil escolher o que foi mais importante nas suas participações em Mundiais. Talvez o espanto que causou no mundo, quando, aos 17 anos, foi protagonista de um torneio que parecia só reservado aos adultos; ou os três títulos, algo que nenhum jogador no mundo conseguiu conquistar; quem sabe a caçada que sofreu em campo após virar um astro, e sua adaptabilidade para resistir em 1970; ou a maneira como eternizou a camisa 10, a amarelinha, o gesto do soco no ar e cada lançe que habita a memória dos que viram e dos que não viram.
O que Pelé fez nas Copas, - e também fora delas – o transtormou, ao longo da História, em personagem fundamental na construção de Brasil do século 20. Pelé, não popularizou só o futebol, mas também o Brasil. Ajudou o país a se encontrar com ele próprio.
Depois de uma passagem pelo Cosmos de Nova York, e a aposentadoria real, Pelé ainda foi muitos. Ministro do Esporte, Embaixador da Boa Vontade da Unesco, Cavaleiro do Império Britânico, Embaixador da ONU de Ecologia e Meio Ambiente, doutor onoris causa da Universidade de Edimburgo. Tudo o que Edson Arantes do Nascimento foi na vida, mas que, agora, na hora de sua morte, nos parecem todos menores do que simplesmente ser Pelé.
MARADONA FOI O GRANDE RIVAL
E ser Pelé também significa ser comparado. Desde o seu surgimento, apareceram vários novos Pelés, brasileiros e estrangeiros, e a maioria nunca chegou aos pés da magestade do futebol. Dois argentinos foram quem mais desafiaram que topava esse desafio, esse debate – ainda que em alguns momentos o próprio debate parecesse desafiar a lógica. Encantando o mundo há quase duas décadas, o recem-campeão Lionel Messi, parece ser quem mais chegou perto. Ainda que em outro tempo da bola. Seu antecessor, o polêmico Diego Armando Maradona, foi o grande rival pelo “cinturão de melhor de todos os tempos” que, na verdade, nunca saiu de perto do brasileiro.
Assim como o Deus argentino, o Rei brasileiro também se mostrou falho e conviveu com polêmicas e erros em sua trajetória de vida, como a filha não reconhecida e a aproximação – ou à falta de crítica - à ditadura militar. Vítima do racismo várias vezes durante a vida, Pelé também conviveu com críticas sobre sua postura em relação a ele. Sabedor de que posições mais fortes não eram bem vistas para um produto de marketing no qual conscientemente tinha se tornado, Pelé evitou qualquer postura mais combativa. Usava sua relevância para pautas sociais como a paz ou o direito das crianças, mas ficava à margem do preconceito racial.
A mudança do mundo que acompanhou os 82 anos de Pelé, porém, o fizeram se adaptar. Já em 1994, ao assumir o Ministerio do Esporte do Governo FHC, pediu para que negros votassem em negros. Mais recentemente, aderiu ao movimento BlackLivesMatter, após a violenta morte do americano George Floyd.
PELÉ É IMORTAL MESMO, MAS O EDSON VAI MORRER QUALQUER DIA
A gente precisa dar ao Pelé, o lugar que ele merece. É preciso reler sua História com os olhos que a História nos oferece, não apenas com base no posicionamento dele – disse Angélica Bastchi, autora dolivro “Pelé. Estrela negra em campos verdes”, no aniversário de 80 anos do Rei; - Ele é um mito dentrpo do futebol. E esse mito é um homem negro com todas as suas complexidades.
Após um longo tratamento contra um câncer e uma última internação de 30 dias, Edson Arantes do Nascimento morreu ontem, no Hospital Albert Ainstein, em São Paulo. Ele deixa sua companheira Márcia e seis filhos. Mas Pelé e seu mito, como muitas vezes, ele prometeu, seguem competamente vivos.
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