Sem desfiles na Marquês de Sapucaí e com blocos só em locais fechados, carioca terá carnaval, masbem diferente. Como diz a marchinha carnavalesca, definitivamente “esse ano não vai ser igual aquele que passou”. O Rio não será aquela efervescência dos anos anteriores, quando uma multidão saía às ruas, com a Banda de Ipanema, o Cordão do Bola Preta, os Blocos de Preta Gil e outros que transbordavam ar ruas da Zona Sul carioca e terminavam na orla, numa festa encantadora para deixar qualquer gringo de queixo caído.
Para quem tem alma carnavalesca, o feriadão, mesmo sem desfiles na Sapucaí nem blocos nas ruas, não passará em branco no Rio. Há cariocas e turistas tirando fantasias ou, pelo menos, maiô e glitter de outros anos do armário, para rodar – no espírito folião – os bares da cidade ou a programação intensa de eventos privados. Em tempos de Ômicron, cada um aproveita esse (não) carnaval do jeito que dá.
Aqui, no município, o prefeito baixou um decreto proibindo os Blocos de saírem às ruas. Ou seja, uma portaria foi baixada, proibindo o carnaval. Faltando alguns dias para a Folia de Momo, os aficionados pela folia, procuraram o prefeito e conseguiram que ele revogasse a portaria em questão e autorizasse a festa em áreas públicas e abertas e não em salões fechados.
E assim como acontece sempre, aqui nessa Cachoeira Alegre, a Charanga de Sebastião Jaques saiu para a rua com alguns instrumentos de sopro e o rufar dos tambores ecoaram pelos quatro cantos, os foliões se organizaram com suas fantasias, deram uma volta nas principais ruas para arrastar a todos e não deu outra: Algum tempo depois, a Rua Mário Ribeiro estava repleta, a Praça da Figueira em meio a uma chuva de confetes e serpentinas, virou uma Praça da Apoteose.
As marchinhas têm a função de arrastar a multidão, o Bloco das Piranhas, abrem o cortejo ao som dos tambores e a “capital da alegria” é uma festa só. Seguem depois o Trio Elétrico e a apresentação dos DJs que, atendendo a todos os gostos, botam todo mundo para dançar.
Para mim, carnaval sempre foi época de extravasar, de se divertir, de esquecer os problemas e cair na folia. Nos últimos anos, porém, apenas coloco uma peruca, um colar havaiano e tomo com os amigos uma cerveja para ver a Banda passar e não ficar alheio à festa. Esse ano, fiquei à beira da piscina com uma galera, dizendo para mim mesmo que: esse ano eu ficaria ali, apenas isso. Mas p som envolvente na bateria me arrebatou, a sobrinha Viviane, trouxe-me a peruca e mais alguns acessórios e logo, estava eu, na praça, a espiar aquela gente, numa alegria incontida.
Ainda mais depois de dois anos tão complicados, tudo o que se queria era mesmo se divertir. A princípio, sem aglomerar, com poucos e bons amigos. Mas como, não aglomerar em Cachoeira? Se todo mundo se conhece, se o carnaval é uma festa democrática, vê-se, a cada ano, novos foliões, foliões antigos já desejando aposentar sua indumentária, pressionados talvez com as dores novas e velhas que não se vão. “Tenho dores no corpo todo, mas não deixo de brincar meu carnaval”, disse uma senhora, relativamente jovem. “Todo ano ponho uma roupa diferente para acompanhar o Bloco. Esse ano, tô com três dores diferentes. Mas, cê pensa que eu não acompanhei? É ruim, heim”! Dizia a outra, suposta amiga.
A alegria é o ingrediente básico para se preparar um bom prato. A energia é o combustível que nos impulsiona a seguir em frente. Mas a fantasia é a representante máxima de tudo isso: tem a ver com o brincar, com a irreverência, o esquecer o dia a dia, driblar a dor, fingir-se que é feliz... sem a fantasia não há carnaval.
Coloquemos, pois, nossas máscaras – tão comuns, nos dias atuais – vistamos nossa fantasia e saiamos por aí. Mesmo que achemos que “esse ano não vai ser igual aquele que passou”, a alegria sempre nos surpreende numa esquina qualquer e a vida se torna uma explosão de felicidade momentânea, mas, o que é a Folia de Momo se não essa brincadeira que dura três dias?
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