26 - ENTREVISTA COM O MONSENHOR ANTONIO JOSÉ CHAMEL- DIOCESE DE LEOPOLDINA
Fernando Mauro Ribeiro
26 de abr. de 2022
6 min de leitura
Ele é mineiro de São Geraldo, nasceu em 29 de janeiro de 1934. Seus pais vieram do Líbano para morar no Brasil. Sua mãe Da. Gurra Habibi, foi uma religiosa que inspirou toda a família. Seu pai Chámel José, foi companheiro de Khalil Gibran, poeta, filósofo e pintor do mundo árabe reconhecido internacionalmente.
Com apenas 27 dias de nascido, ficou órfão de pai. Aos 11 anos inicia seus estudos em Mariana e é ordenado padre em 08 de dezembro de 1956. Quando a Diocese de Leopoldina foi criada, ele tinha apenas sete anos de idade, mas recorda do anúncio da desvinculação da Arquidiocese de Mariana. Não assistiu a posse do primeiro bispo, mas tão logo foi ordenado padre, foi designado por Dom Delfim Ribeiro Guedes para trabalhar na Diocese de Leopoldina. Trabalhou com todos os sete bispos, ocupando cargos como reitor, ecônomo e professor do Seminário Menor, além de chanceler e ecônomo da Diocese de Leopoldina.
Particularmente, tenho pelo Monsenhor enorme carinho e gratidão pela atenção a mim dispensada, quando de minhas visitas à Cúria Diocesana. No dia 15 desse mês, pouco antes de celebrar na Igreja-matriz, em Cachoeira Alegre, ele nos concedeu uma entrevista, onde fala de sua vocação, sua trajetória, sua família... Confira:
Novo Tempo: O senhor é o caçula de uma família de cinco filhos. Fica órfão de pai, ainda bebê. Quem despertou no senhor a vocação, a mãe, a família ou algum padre?
Mos. Chamel: Meu irmão mais velho foi para o seminário. Eu tinha cinco anos nessa ocasião e desde então despertou em mim o desejo de tornar-me padre. Minha família, os amigos, o apoiaram e acharam aquilo muito bonito. Ele não ficou, mas foi um católico autêntico. Mamãe era muito católica, ia à missa todos os domingos, rezava o terço todos os dias e nos educou na fé católica. Todos os irmãos foram católicos praticantes até o fim da vida. Isso, sem dúvida contribuiu para manter-me firme naquele propósito.
Novo Tempo: Fruto de uma família católica e vivendo nesse meio, o senhor sentiu-se “chamado” e disse “sim”. Fale-nos de sua trajetória.
Mons. Chamel: Com 11 anos fui para o Seminário em Mariana. Naquela época, nós ficávamos 9 meses internos com nossos estudos e três meses em nossa casa. Depois, retornávamos no ano seguinte. Fiz o ginasial,o segundo grau, depois o chamado Seminário Maior, dois anos de filosofia e 4 de teologia. Foram 12 anos de formação. Uma particularidade: durante todo de meu estudo, só tive professores padres. Exceto no primário.
Novo Tempo:O senhor é mineiro de São Geraldo e depois mudou-se para Visconde do Rio Branco. Como é a relação do senhor com essas duas cidades?
Mons. Chamel. Em São Geraldo eu só vivi dois meses. Com 27 dias de vida perdi meu pai. Um ferimento na mão, que inflamou e deu tétano, com a falta de recursos da época, ele veio a falecer. Mudamos então para Visconde do Rio Branco. Minha mãe não recebia nenhum tipo de pensão, foi com a ajuda de dois irmãos, - tios meus - e o seu trabalho que conseguiu nos criar e nos educar.
Novo Tempo: Piacatuba tem um cantinho no coração do senhor? Afinal, foram 33 anos atuando como pároco, não é?
Mons. Chamel: Sim, foram 33 anos como pároco daquela paróquia. Uma Paróquia grande com várias capelas rurais, onde eu ia para celebrar, com chuva ou sol, com barro ou poeira. De vez em quando eu vou lá, mas em Leopoldina encontro muitos deles.
Novo Tempo: Quanto tempo o senhor está a serviço da Diocese?
Mons. Chamel:Há 65 anos. Desde que me ordenei estou a serviço da Diocese. Com um por menor que é, sempre residindo em Leopoldina. Eu tentei me mudar, mas o Bispo acha necessário que eu fique.
Novo Tempo:Além do sacerdócio, qual são as outras funções que o senhor já exerceu ou exerce na Cúria?
Mons. Chamel: Já exerci praticamente todas as funções: chanceler, tesoureiro, os cuidados com a residência episcopal... hoje, a minha função é no arquivo e na Câmara Eclesiástica, que cuida dos processos e declarações de nulidade matrimonial.
Novo Tempo: O pai do senhor era conpemporâneo de Khalil Gibran. Mais que isso: era companheiro de escola de Gibran. Ele era dado às letras, à poesia, á arte?
Mons. Chamel: Talvez sim. Meu pai, veio do Líbano, foi de fato, colega de escola de Gibran. Não faz muito tempo, uma pessoa que foi ao Líbano, trouxe uma revista de lá com uma reportagem em que Khalil Gibran o grande escritor, fala de um colega de estudo de nome: Chámel José – meu pai – que havia vindo para a América do Sul e ele não tivera mais notícias. Não houve mais contato, meu pai faleceu com 53 anos de idade. Eu tinha apenas 27 dias de nascido.
Nota do autor:Khalil Gibran nasceu em 1883 e morreu em 1931, com apenas 48 anos. Nasceu no Líbano e morreu nos Estados Unidos. Esse ano celebra-se os 91 anos de sua morte. O poeta e pintor deixa uma obra em parte escrita em sua terra e outra nos EUA. Em 1918 publicou “O Louco”, primeira obra integralmente em inglês.
Novo Tempo: “O Profeta” é o livro de Khalil Gibran que mais vendeu. É também o livro que mais me marcou. Dentre outros, cito “Lázaro e Sua Amada como muito interessante. O senhor admira o autor e sua obra?
Mons. Chamel: Eu já li um livro dele. Não me lembro o nome do livro não. Talvez seja esse mesmo, “O Profeta”.
Novo Tempo:Sabemos da oscilação entre o “chamado”, a vocação, o “sim” e, a ordenação de um seminarista. Há Paróquias vacantes? Todas as Paróquias têm um padre residente?
Mons. Chamel: O objetivo de Dom Edson José é que toda paroquia tenha um padre residente. Nem sempre isso é possivel. No momento, quase todas elas têm. Apenas, Tebas e Argirita não!
Novo Tempo:A Igreja católica está perdendo terreno, pois é grande o êxodo de fiéis para outras igrejas evangélicas e neo pentecostais. Como o senhor avalia essa questão?
Mons. Chamel: Na minha opinião, essas pessoas, não conhecem realmente a Igreja católica. Foram batizadas, talvez fizeram a Primeira Eucaristia, mas não chegaram ao Crisma e pouco sabem dos Sacramentos, dos Ritos, das Cerimônias que a Igreja celebra. Tudo isso, é fonte de conhecimento, incentiva o católico a conhecer mais e a buscar mais conhecimento acerca da doutrina. Se a pessoa não tem uma base de conhecimento, à menor dificuldade que surge, ao menor aborrecimento, ela muda de religião. Em alguns casos, basta apenas um convite para que elas se vão.
Novo Tempo:Dom Célio, quando Bispo dessa Diocese, fez visitas pastorais. Nossa Paróquia o recebeu com muito carinho e foi muito produtiva sua visita. Dom Edson José, tem projeto nesse sentido?
Mons. Chamel: Visita Pastoral... até o momento ele não manifestou esse desejo. Mas ele ja percorreu as Paróquias e tem informação de cada uma dela através de seu pároco. Não creio que tenha essa intenção, pelo menos por enquanto.
Novo Tempo:Sou muito grato pelas vezes que o senhor nos recebeu na Cúria, quando lá estivemos. Quer a serviço da Comunidade, reivindicando um padre para a nossa Paróquia, quer para pesquisas nos arquivos da Diocese. Somos muito gratos por encontrares um tempo em sua agenda para essa nossa conversa, por nos conceder essa entrevista e por ter celebrado conosco com esse entusiasmo. Qual a impressão que o senhor leva de nossa Paróquia?
Mons. Chamel: Vir celebrar aqui foi um prazer. Isso abre caminho para a gente voltar outras vezes, desde que haja convite do pároco. A impressão que tive ontem, foi muito boa. Bastante participação, tudo muito bem organizado, gente sempre disponível para ajudar. Hoje, não será diferente.
Novo Tempo: Estamos caminhando. Nossa Paróquia tem suas limitações, dificuldades a serem superadas, temos consciência disso. Mas, que bom que o senhor nos veja com esses olhos.
Mons. Chamel. Cachoeira Alegre tem um povo trabalhador, além da participação nas celebrações, as obras materiais estão aí, né! A casa Paroquial me lembra um ex colega de seminário; Padre Raimundo Nonato foi quem a construiu. Uma casa enorme e confortável, que agora passou por uma boa reforma. Ele melhorou também o Cemitério. Em pouco tempo, Padre Nonato fez muita obra. Vejo que a Matriz também vai receber nova pintura...
Novo Tempo: Gostaria que o senhor deixasse uma mensagem de Páscoa para nossos leitores e para os paroquiamos.
Mons. Chamel: A mensagem de Páscoa que eu deixo é de que continuem trabalhando, se empenhando pelas coisas do Reino de Deus. Valorizem a liturgia, os Sacramentos, participem da Missa e de outros atos. Quero deixar uma pedido aos homens: que participem e valorizem o Terço dos Homens. Participem da vida da Igreja o Apostolado da Oração, da Congregação Mariana e de outras entidades religiosas que, são também, muito importantes para a formação. Sou congregado Mariano desde a idade de oito anos. Meu irmão mais velho, já falecido – foi presidente da Congregação Mariana de Visconde do Rio Branco, aos 19 anos, com 45 membros. Precisamos estar a serviço!
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