25 – SE NÃO CASAR COM VOCÊ, VIRO PAPA, DISSE FRANCISCO A UM AMOR DE INFÂNCIA
Fernando Mauro Ribeiro
25 de abr.
4 min de leitura
“Se não casar com você, viro Papa”. A promessa escrita em carta enviada por Francisco a Amalia Damonte aos 12 anos foi cumprida. Vizinhos, os dois eram grandes amigos, mas a família da jovem não aprovava a relação.
- Quando éramos jovens, Bergóglio (sobrenome de batismo do Papa) me escreveu uma carta, e eu não respondi. Meu pai me bateu porque eu tinha tido a ousadia de escrever uma carta para um garoto. (Francisco) me mandou um desenho, na carta, de uma casa com telhado vermelho e disse que é onde nós moraríamos quando a gente se casasse – disse Amalia ao “The Telegraph”, de Londres, em 2013.
Os dois não se viram mais, por conta da pressão dos pais de Amalia. Ao relembrar do episódio, a argentina diz que se tratava apenas de um afeto entre crianças:
- Eu só era uma pequenina. Foi totalmente puro.
NAMORADA, NOIVA E RECAÍDA
Antes de seguir no seminário, aos 21 anos, Francisco foi noivo, como contou em biografia em 2024. “Era uma moça muito doce que trabalhava no mundo do cinema e que depois se casou e teve filhos”, relembrou o Pontífice.
Já nos estudos da fé, o argentino teve “uma recaída” ao ir ao casamento de um tio: “Me vi encantado por uma jovem em particular. Ela era tão bonita, tão inteligente que me deixou tonto. Durante uma semana fiquei com a imagem dela na cabeça e tive dificuldade para rezar. Felizmente, isso passou, e consegui dedicar minha mente e meu corpo à vocação”.
MAIS DE 560 LIGAÇÕES PARA GAZA
Francisco acompanhou o drama das quase 600 pessoas da única paróquia católica na região. Na noite de segunda feira, o celular do reverendo Gabriel Romanelli não tocou às 19h, como acontecia todos os dias. Esse era o horário em que o Papa Francisco costumava ligar para a Igreja da Sagrada Família, em Gaza, para saber como estavam as 600 pessoas abrigadas na paróquia em meio ao bombardeio na guerra entre o Hamas e Israel. A ausência da ligação marcou a morte do Pontífice, profundamente sentida pelos cristãos da região.
Francisco ligou 563 vezes à Igreja, desde o início da guerra em outubro de 2023, sempre com mensagens de encorajamento como “estou com vocês, não tenham medo”, segundo George Antone, chefe da comissão de emergência da Igreja. O padre Romanelli revelou que nos dias mais difíceis de bombardeio, o Papa chegou a ligar até cinco vezes por dia. A última ligação foi no sábado, anterior à sua morte.
Além de apoio espiritual as ligações reforçavam a sensação de que o mundo não havia esquecido Gaza. O gesto do Papa se tornou símbolo de empatia e compaixão em meio à tragédia.
- As pessoas se sentem abandonadas, mas o chamado do Papa deu um sinal muito forte de esperança – afirmou Romanelli.
Na última aparição pública, no domingo de Páscoa, Francisco voltou a pedir por paz na região, denunciou a crise humanitária em Gaza e apelou por cessar fogo e libertação de reféns. Fiéis católicos, ortodoxos e até mulçumanos foram até à Igreja prestar condolências.
- Estamos convencidos de que ele está no Céu. Agora podemos ligar para ele a qualquer momento – disse Romanelli, emocionado.
O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, elogiou o legado do Papa e afirmou que Gaza simbolizava tudo o que estava em seu coração: proximidade com os pobres e busca pela paz.
‘FUGA’ DISFARÇADO À NOITE
O olhar aos pobres não esteve apenas no discurso do Papa Francisco. Como contou o portal Uol, em 2013, o arcebispo polonês Konrad Krajewscki e guardas do Vaticano, deixaram escapar que Francisco “fugia” do Colégio Apostólico, disfarçado à noite, para poder passear pelas ruas de Roma, dando dinheiro aos pobres.
Também teria sido por sua ordem que três chuveiros foram instalados nos arredores da Basílica de São Pedro em 2014, para que a população em situação de rua pudesse tomar banho. Em 2015 criou a “Barbearia do Papa” para atender aos necessitados.
Outras curiosidades revelam a simplicidade do Santo Padre. Segundo o Uol, após ser eleito Papa, ele decidiu voltar da Capela Sistina de ônibus, dispensando sua limosine oficial para a Casa de Santa Marta onde os representantes do Vaticano estavam hospedados para o conclave. E pagou a conta do próprio bolso.
Francisco também não assistia a TV desde 1990, quando fez uma promessa para Nossa Senhora. Nem mesmo os jogos do San Lorenzo eram exceção. Ele só acompanhava os resultados pela Guarda Suiça e os jornais matutinos. Na juventude ele chegou a ser segurança de boate e formou-se técnico em química antes do seminário.
VATICANO INICIA DESPEDIDA SILENCIOSA
Funcionários do Vaticano iniciaram ontem, a portas fechadas, as despedidas ao Papa Francisco. Trabalhadores e membros do clero estão autorizados a passar pela Capela da Casa Santa Marta, onde está o corpo do Pontífice.
Dignitários e servidores da cidade do Vaticano foram os primeiros a se despedir do Papa. A cerimônia íntima inclui desde religiosos - como freiras, bispos e integrantes da cúpula eclesiástica – até jardineiros, bombeiros e médicos que prestam serviços à Santa Sé.
Para prestar a última homenagem, os funcionários se dirigiram à Casa Santa Marta, residência oficial do Papa, onde aguardavam em um saguão. Em seguida eram levados em pequenos grupos até a Capela onde o corpo de Francisco permanece sob a escolta de dois guardas suíços.
O acesso é controlado e feito de forma gradual, respeitando o clima de recolhimento. Todo o processo ocorre em silêncio. Segundo testemunhas ouvidas pela agência France Presse (AFP), muitos funcionários se emocionam, enquanto outros preferem fazer orações silenciosas, em pé, ajoelhados ou sentados em um banco.
“Há um ambiente de acolhimento e de oração, mas para nós, que acompanhamos tudo, ainda parece irreal”, relatou à AFP uma brasileira que trabalha em um Discatério de Comunicação do Vaticano.
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