24 - ROBERTO JEFERSON ATIRA E LANÇA GRANADA NA POLÍCIA FEDEERAL
Fernando Mauro Ribeiro
24 de out. de 2022
6 min de leitura
Essa é a manchete de primeira página de um jornal carioca. Se, eu porventura comentar com algum bolsonaristas, já sei a resposta: “O jornal é tendencioso; a Globo persegue; a mídia é toda contra o presidente e por aí vai”. Muito provavelmente, não farei tal comentário, já que tenho evitado realmente argumentar o que quer que seja, sobre política, em virtude do clima hostil que se criou.
Mas, mesmo avesso às discussões políticas, tenho comentado com amigos próximos e já manifestei aqui no Portal, minha preocupação com o rumo que deram à campanha eleitoral e o “clima de ódio” que tomou o país nos últimos anos. “Onde vai parar esse país se cada decisão judicial com ordem de prisão a polícia for recebida a bala”? O discurso, as atitudes e a reação antidemocrática e extremamente violentas do apoiador de Bolsonaro - que ele agora, nega – deveriam afastar o eleitorado do candidato à reeleição, ou no mínimo faze-lo pensar. Mas, não, são eleitores que, como numa seita seguem fielmente seu líder... e caminhar às escuras é sempre um risco. Não ter a visão é um caso, Fazer-se cego, é outra.
O episódio teve evidentemente enorme repercussão, como não poderia deixar de ser. Mas, se tivesse envolvido algum apoiador de Lula, a algazarra era muito maior. Diriam que foi o Lula quem mandou disparar os tiros e atirar a granada; que o Lula é incendiário e que “ele vai transformar o Brasil numa Venezuela”, como ensina o seu Jair. Será por que o seu Luiz Inácio não fez antes? Esteve por mais de uma década no poder; ele teve oportunidade de processar essa mudança, por que ele só faria agora? Já estou eu argumentando. Mas, é como disse a um casal de amigos - com quem viajo já há algum tempo – e que se desculpava por me enviar áudios relacionados à campanha de Bolsonaro, seu candidato. Leio-os todos, eu disse! Temos o direito de expressar nossas opiniões, - ou não temos, ou não a teremos mais? – faça-as com total liberdade, pois não sou eu quem vai cerceá-los ou torna-los inimigos em virtude disso, como fazem muitos. Respeitemo-nos e pronto!
É bem verdade que me manifesto publicamente, pois na condição de cidadão – como qualquer outro – posso me posicionar, porém, quando escrevo algo e publico num jornal, essa repercussão é infinitamente maior. Mas, é o risco que se corre, aqueles que atuam nessa área, que não permanecem em cima do muro e que não temem expor suas ideias.
Fernando M. Ribeiro
EX-DEPUTADO TEVE O RETORNO À CADEIA DECRETADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
O ex-deputado federal Roberto Jeferson foi preso ontem, (domingo) pela Polícia Federal depois de um cerco que durou oito horas em frente à sua casa, em Comendador Levy Gasparian – RJ, descumprindo a decisão do STF, que determinava a conversão da prisão domiciliar em regime fechado. Jeferson se negou a receber os agentes, contra quem atirou de fuzil e lançou granadas.
O Extra apurou que o setor de inteligência federal detectou informações de que Jeferson iria esperar até terça feira, prazo limite para prisões em flagrante, para tentar tumultuar o processo eleitoral. Segundo Moraes, Jefferson passou informações a correligionários do PTB, concedeu entrevistas e compartilhou notícias falsas via redes sociais.
No episódio recente, o ex-parlamentar, atacou a ministra Carmem Lucia com xingamentos machistas e misóginos. Ele se referiu à magistrada como “bruxa de Blair” e a comparou a uma prostituta pelo seu posicionamento em decisões que puniram a emissora Jovem Pan por não dispensar tratamento isonômico aos candidatos à Presidência.
DESOBEDIÊNCIA DE JEFFERSON O LEVA DE VOLTA À PRISÃO EM REGIME FECHADO
Está totalmente demonstrada diante das repetidas violações a incapacidade das medidas cautelares capaz de cessar as ações de Jefferson, o que indica a necessidade de restabelecimento da prisão, escreveu Moraes. O ministro cita no despacho também um áudio em que Jefferson orienta integrantes do PTB; uma entrevista à Jovem Pan; e vídeos com notícias falsas sobre o Poder Judiciário e ataque aos ministros do STF. Em um deles, diz que Moraes é “chefe da milícia judicial”.
VIOLAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES POR JEFFERSON
Em janeiro desse ano, ele teve sua prisão preventiva no âmbito das fake News convertida em domiciliar. Na ocasião, a Justiça determinou cinco medidas cautelares que deveriam ser cumpridas por ele: uso de tornozeleira eletrônica; proibição de qualquer comunicação exterior, incluindo redes sociais próprias ou de outras pessoas; proibição de visitas (exceto familiares); proibição de conceder entrevista a menos que seja permitido pela Justiça; e proibição de se comunicar com outros investigados no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas.
EX-PARLAMENTAR MANDOU VÍDEOS PARA ALIADOS
Enquanto se recusava a cumprir a ordem judicial, Jefferson gravou vídeos, distribuídos por aliados via aplicativos de mensagens, em que reconhecia o ataque aos agentes e dizia que não iria se entregar.
A Polícia Federal também vai investigar como Jefferson, que estava sob regime de prisão domiciliar, conseguiu armas de grosso calibre em casa, ainda que tenha registro de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC). Um decreto de 2019, assinado por Bolsonaro também proíbe o armazenamento de produtos de controle exclusivo do Exército, caso de granadas.
DE VOLTA À CENA: PADRE KELMON NEGOCIA COM A PM.
Depois que Roberto Jefferson publicou vídeos relatando que havia atirado em policiais federais que tentavam prendê-lo, uma pequena multidão começou a se formar em frente à sua casa. Além de curiosos, dezenas de bolsonaristas passaram a dividir espaços com agentes de segurança e carros das polícias militar e federal, muitos deles vestidos com camisas do Brasil e gritando palavras de ordem. Mais tarde, foi a vez de simpatizantes do ex-presidente Lula começarem a chegar. Os grupos procuraram se manter afastados, mas houve provocações de parte a parte.
Os bolsonaristas hostilizaram também os jornalistas presentes. O cinegrafista Rogério de Paula, da Inter TV, filiada da TV Globo, foi empurrado e agredido com um soco. Ele foi derrubado, desmaiou e chegou a ter convulsões, segundo testemunhas. Ele foi socorrido por bombeiros e levado para um hospital no município de Três Rios, próximo a Levy Gasparian.
Houve um tumulto e entre eles estava o autointitulado Padre Kelmon, que concorreu à Presidência da República pelo PTB em lugar de Jefferson e chamou a atenção no debate da TV Globo no primeiro turno pela dobradinha com Jair Bolsonaro. Pouco mais de uma hora depois, foi o padre quem entregou à PF, a arma que seria a usada por Jefferson para atirar contra os policiais.
BOLSONARO TENTA SE DISSOCIAR DE ALIADO
Candidato à reeleição chegou a dizer que não havia fotos dos dois, e foi desmentido logo depois. Para tentar minimizar o impacto negativo do episódio, Bolsonaro foi rápido ao tentar se dissociar do petebista, repudiando o ataque armado, nas redes sociais, minutos depois do ocorrido.
NÃO EXISTE LIGAÇÃO MINHA COM ELE
Apesar da afirmação, Jefferson e o partido controlado por ele, o PTB, se alinharam durante todo o mandato de Bolsonaro às pautas de governo.
Auxiliares haviam orientado o presidente a não estender sobre o assunto com o objetivo de evitar trazer para ele a crise desencadeada por Jefferson. Bolsonaro disse: “Não há foto de Roberto Jefferson junto comigo”. Bolsonaro foi prontamente desmentido nas redes sociais com publicações de imagens dos dois juntos em encontros no Palácio do Planalto.
O candidato petista, por sua vez, afirmou em entrevista que, a reação havia sido motivada pela criação de uma parcela “raivosa da sociedade brasileira” durante o governo Bolsonaro.
LIRA E PACHECO CONDENAM ATAQUES À MINISTRA E À PF, APÓS EPISÓDIO QUE ENVOLVEU GRANADA E FERIU DOIS PM.
O Brasil assiste estarrecido a fatos que, neste domingo atingiram o pico do absurdo”, disse o líder do Congresso Nacional, Arthur Lira (PP – AL). Repudio toda a ação violenta, armada ou com palavras, que ponham em risco as instituições e seus integrantes. Não admitiremos retrocessos ou atentados contra a nossa democracia, concluiu ele.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD – MG), já havia se manifestado em defesa da ministra e do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia, que foi xingada por Jefferson. O parlamentar citou também as ofensas dirigidas por bolsonaristas à deputada eleita Marina Silva (Rede) na sexta feira, quando ela jantava num restaurante em Belo Horizonte. Esse tipo de atitude não representa a nossa sociedade, que busca um país com mais equilíbrio e serenidade e igualdade” postou o senador Rodrigo Pacheco.
Ele disse ainda estar preocupado com os ataques às mulheres. Punir os agressores e calá-los é obrigação moral das instituições, principalmente, na Justiça Penal. “O Estado Democrático de Direito confere liberdades ao cidadão, jamais o direito de praticar crimes, violar o direito alheio”.
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