Você tem o hábito de escrever sua vida em um diário? Fiz, durante um pouco mais de três décadas. São muitos os cadernos – eles existem ainda – nos quais relatei fatos do cotidiano. Já tive vontade incinerá-los. Tornar cinzas, algo que muitas vezes ainda fumega dentro de mim? Há ali, relatos que me incendiaram por dentro. Fazer consumir-se no fogo, registros de ideais, ideias e momentos bons, vividos com intensidade? Também estaria vendo arder-se no fogo, pecados inconfessos e ali confessados, dores sentidas, saudades vividas, lembranças carcomidas, mas, doídas, paixões más resolvidas no teatro da vida. Deixe-as lá mesmo. Há feridas ainda cicatrizando. Há sonhos e pesadelos, amores desfeitos, derrotas e conquistas, alegrias e tristezas...
Afinal, não é de um pouco de tudo isso que é feita a vida? Não me recorro a essas anotações com frequência. Digo para mim mesmo: Tenho algo mais importante que folhear velhos cadernas. Contudo, às vezes, sou forçado a examiná-los para dirimir alguma dúvida relacionada a datas, algum fato que me fugiram pelas frestas da memória e que, possivelmente estariam ali. Saiba tu, que um dia desses, quando buscava algo para concluir um capítulo do livro “Um grito no silêncio”, fui até esses cadernos, aos quais costumo me referir como um “paiol de bobagens”, em outro momento: “arsenal” (onde estão minhas armas e munições) poder bélico para destruir a mim mesmo. Voltemos à minha busca nesses ditos cadernos, experimentei algo que muito raramente havia vivido antes, quando de eventuais consultas.
Foi gostoso reler, em um outro contexto, e sentir ali, a mão de Deus. Perceber o Espírito Santo me orientando, direcionando meus passos, me guiando como fizera e faz tantas outras vezes e, que eu, naquele momento nem me dava conta de sua ação. Talvez, porque nos tornamos cegos, quando a paixão é maior que a razão, e não enxergamos a placa de contramão. Porque nos ensurdecemos quando a emoção toma conta de nós e não ouvimos a voz interior nos mandando parar, tentando nos deter, para evitar a colisão.
Não sei bem ao certo como isso aconteceu. Mas, ler, algumas daquelas páginas, num outro momento de minha vida, noutro contexto, me fez lembrar a experiência do patriarca Moisés, fugitivo do Egito, decepcionado com a vida. Assim como eu, quantas lágrimas deve ter derramado, quanta angústia, solidão, incertezas e tantas outras emoções deve ter experimento, até um dia ter a coragem de ir além do deserto.
Não sei exatamente onde se encontra essa passagem no Livro Sagrado. Acho que, em Êxodos. Aguarde-me que vou averiguar! Sim, é mesmo no Livro de êxodo que se encontra o relato em que Moisés contemplou algo extraordinário: “O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama que saia do meio de uma sarça. Moisés olhava a sarça arder-se, mas não se consumia.
É bom salientar o significado da sarça para os israelitas: algo seco, sem vida, encontrado no deserto justamente porque é desgraçado, ressequido, vazio. Assim, surgem as perguntas: O que em nós não deu certo e se transformou em sarça? O que deixamos para trás, sem solução, desprezado? Às vezes, negamos o passado, mas vivenciamos uma dor no peito, uma angústia porque gastamos energia para afirmar uma coisa e viver outra.
Segundo os estudiosos, na Sagrada Escritura, o Egito é sempre motivo de morte, fuga, escravidão, e quantas vezes vivemos essa prisão dentro de nós mesmos, na nossa casa, no trabalho, na Igreja? Precisamos perceber que o deserto indica nossos fracassos, a falta de vida, de sentido. E quando estamos vivendo tal experiência de saudosismo, queremos uma segurança, uma espécie de síndrome do porto seguro, (quando algo errado no presente nos reporta ao passado, buscando figuras que nos deram certa segurança).
Fugir da realidade não resolve problema algum. Na citação do livro do Êxodo, a sarça significa a minha história, a sua história, e nesta história concreta precisamos tomar uma decisão: como quero enxergar minha vida?
1. Com olhar de desespero – fixar os olhos no fracasso, na dor, na tristeza, transformar as possibilidades em deserto.
2. Com olhar de gratidão - perceber a presença de Deus, contemplar as maravilhas do Senhor que te segurou pela mão, te chamou pelo nome e te disse: “não tenhas medo!”
Como você tem enxergado sua vida? Devemos aprender com Moisés, perceber Deus dentro de nossas crises, pois Ele nunca irá nos deixar. O Senhor disse: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sentimentos”! (EX. 3.7).
Perceba Deus no seu cotidiano e O convide para dirigir sua emprese, sua casa, sua família, sua vida. Convide-O para caminhar no campo e tire os olhos da sarça ressequida e contemple mais a chama de Amor que sai de dentro dela. Acredite: Deus te ama! Coragem, sempre é tempo de recomeçar
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