24 A TRISTEZA DO RIO É NÃO PODER PARAR... VOCÊ CONCORDA
Fernando Mauro Ribeiro
24 de jul. de 2023
4 min de leitura
“Estar sempre em movimento pode ser positivo, mas entender que o equilíbrio também exige pausa é essencial. Entenda o seu caminho. Reflita sobre a sua trajetória. Seja uma pessoa consciente do seu propósito e use tudo que sabe a seu favor”. “A tristeza do rio é não poder parar. Se você pode, aproveite”. Primeiro: um trecho do livro, depois o título de autoria de Mario Sérgio Cortella. Uma obra que aborda de forma ampla sobre o autoconhecimento. Pode até ser uma sugestão de leitura, já que ler livros sobre autoconhecimento é extremamente importante para que você comece a compreender melhor a si mesmo, asseguram os entendidos no assunto. Digo que pode até ser uma sugestão de leitura, porque creio que de cada livro se extrai algo, contudo não posso recomendar o que não conheço. Em se tratando do autor, pode-se, sim, tratar-se, de numa obra interessante. Ele escreve muito bem e conhece como poucos da língua portuguesa. Ainda não li. Gosto, mas não sou fissurado em livros de autoajuda. Há outros na fila de minha biblioteca à espera.
Discordo do grande escritor porque acredito na necessidade de caminhar, seguindo sempre em frente. Penso que é esse o segredo da vida. A lei da vida é estar em movimento: “Eu sou o Caminho...” disse o grande Mestre, ensinando-nos, - o Homem de Nazaré - que caminhar é preciso. O rio nunca será triste, pois o caminhar de suas águas, causam alegria por onde passam, seu objetivo é levar vida em todos os lugares por ele percorridos. Não há tristeza no rio, e sim nos olhos de quem o observa. A tristeza do rio é ser alvo de poluição, consequência da negligencia humana. Uma pausa para reflexão é sempre positiva. Mas, quanto ao rio, não creio que seja esse o seu desejo, já que o seu objetivo é chegar ao mar.
Quando digo “discordo”, não é que eu queira desencorajar o leitor, nem enfrentar o autor, apenas faço uso do meu direito de questionar, opinar. Também não sou crítico literário – não tenho bagagem para tanto – é somente uma forma de respeitosamente dizer o que penso, (sobre o título, já que não li ainda a obra) só um olhar crítico com relação ao seu entender de que “o rio é triste porque não pode parar”. Entendo que o escritor, o poeta tem liberdade poética e, trata-se de uma metáfora... de forma nenhuma quero contestar a obra de Mario Cortella, a quem admiro. E conferindo o meu calendário, vi que hoje (14 de julho) é dia da “Liberdade de Pensamento”. Então, por que não fazer uso dela.
Bem sei que isso é uma metáfora em relação ao sentimento e atitude do ser humano. Sim, pois, ele é o único quem pode mudar para melhor ou pior o seu existir, é ele quem tem o controle de si mesmo. É evidente que Deus nos quer livres e felizes. Ele nos criou para que tenhamos vida e vida em abundância, mas nos deu também o livre arbítrio. Agora, para se processar mudanças, requer humildade, fé, conhecimento sobre o certo e o errado, determinação, coragem e perseverança.
Há também algo que me faz pensar na minha quase impossibilidade de parar, que é, a estagnação. Assim como o riacho que em busca do mar, também eu sigo a caminho da Casa do Pai, sem descansar. Um pequeno riacho desce das serras, cantarolando, se um rochedo o interrompe, ele o contorna ou é tragado pelas águas que se avolumam. O rio é obstinado, ele quer ir além, ele quer chegar ao mar, se não consegue por si só, entrega suas águas a um outro rio maior, que se encarrega de conduzi-las. É, de sua natureza, esse peregrinar por entre as matas, os campos, os vales, as vertentes, é sua vocação, desde o seu nascer nas fontes tranquilas e serenas das cordilheiras, das serras, chegar aos grotões, formar riachos, cachoeiras e desaguar nas águas em curso de algum ribeirão, de visitar as cidades, matar a sede da população, irrigar os campos, visitar os sertões, algumas vezes, fazer girar os moinhos, enamorar-se do sagrado coração da terra, entender o seu ciclo fértil e fazer germinar em seu ventre as sementes que trazem à mesa o pão.
Não, o rio não pode, não deve e nem quer parar. O rio sabe como contornar os obstáculos, pois, tem como objetivo chegar ao mar. Assim, creio eu, deve ser também o homem em seu caminhar... com Cristo, cumprindo sua sina, não importa se em alguma rodovia ou caminhando pela Palestina, pisando no chão duro da estrada, com os pés e a barra de seu manto cheios de poeira. Em nossos dias, é preciso arte para caminhar e não errar o caminho, bebendo das águas límpidas de nossa Cachoeira, seja noite ou madrugada, como quem vai ao encontro da namorada, conscientes de nossa missão que é chegar até o coração do Pai: pois “na minha Casa há muitas moradas”!
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