23 – DIA DA DIVINA MISERICÓRDIA - DEUS JUSTO E MISERICORDIOSO
Fernando Mauro Ribeiro
23 de out. de 2021
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A Igreja quer recordar-nos que a misericórdia está no centro da nossa fé, pois Deus é misericordioso; e está no centro da vida eclesial, pois a Igreja é anunciadora, servidora e testemunha da misericórdia de Deus. Também está no centro da vida cristã que deve ser uma resposta coerente a Deus, que é misericordioso. A misericórdia não é apenas uma ideia nem, muito menos uma ideologia. É um sentimento, uma prática, uma atitude. Questão nem sempre fácil é conciliar misericórdia e justiça.
Deus é justo e misericordioso. Como compreender isso? Como conciliar essas duas qualidades no agir divino] Aqui convém recordar que a lógica de Deus vai além da nossa: porque é justo, Deus também é misericordioso. A misericórdia está bem para Deus, que é todo-poderoso. Nossas ofensas nunca poderiam ser plenamente reparadas por nós mesmos, pois a Majestade ofendida ou ultrajada é maior que a nossa capacidade de reparação.
Portanto, Deus perdoa e usa de misericórdia para com o homem frágil e pecador, sempre que encontra nele um sinal de humildade e reconhecimento da própria falta. Basta ao homem abrir uma brecha de arrependimento em seu coração, que Deus entra com sua misericórdia. O que Deus espera do homem é o arrependimento e a confiança no seu perdão. A misericórdia divina supera a medida estreita da justiça e restaura o pecador com o perdão, dando-lhe vida nova. O Papa Francisco trata a relação entre a misericórdia e justiça na Bula de Proclamação do Jubileu do Ano da Misericórdia – Misericordiai Vultus o “O Rosto da Misericórdia”.
Menos fácil é conjugar justiça e misericórdia quando se trata do homem. Como falar de misericórdia a quem oi vítima de violência, de ofensas profundas à sua dignidade, de injustiça e lesão aos seus direitos fundamentais]. É claro que a misericórdia não dispensa a justiça, nem apelar para a misericórdia como álibi para não satisfazer a justiça. Quem foi injusto em relação ao próximo, deve reparar a injustiça, arrepender-se do mal feito e pedir o perdão para, depois, pretender a misericórdia.
Ao injustiçado, porém, cabe perdoar generosamente as ofensas recebidas e usar de misericórdia, indo além da mera justiça. A misericórdia é uma capacidade divina concedida pela graça de Deus também ao homem, para que ele seja capaz de perdoar e ser misericordioso. Quem deseja obter a misericórdia, deve mostrar sincero arrependimento e humildade. Até mesmo a misericórdia de Deus é concedida somente ao homem que se abre para acolhe-la com humildade e arrependimento.
Seria a misericórdia incompatível com a verdade? Certamente não! Devemos orientar-nos sempre pela verdade, sem negá-la, nem deixando de aderir a ela sempre que a encontramos. Conhecer a verdade e reagir, conforme a verdade, são coisas altamente desejáveis, mas nem a todos isso é possível; a ignorância nem sempre é culposa.
As palavras de Jesus na cruz em relação aos seus algozes, são bem ilustrativas: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. Eles estavam cometendo uma ação extremamente grave, cujo alcance, porém, eles certamente, nem estavam percebendo: estavam matando de maneira cruel e injusta o Filho de Deus que se fez homem! Mesmo assim, Jesus foi misericordioso para com eles e os perdoou. E invocou o perdão de Deus Pai para todos os que pecam por ignorância.
Aqui, de fato, tocamos o núcleo central do mistério da misericórdia: na cruz, revela-se de forma mais extrema o coração misericordioso de Deus e o seu desejo de dar a vida eterna a todos, conforme as palavras de Jesus a Nicodemos: “tanto Deus amou o mundo, que entregou seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crer, não pereça, mas tenha a vida. De fato, Deus não veio para condenar o mundo, mas para salva-lo”.
Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva; Cristo não veio cobrar justiça ao homem: quem seria capaz de se justificar diante dele] Deus enviou seu Filho ao mundo para manifestar aos homens, na sua misericórdia infinita, seu desejo é que todos tenham vida em abundância. Cardeal Odilo P Scherer – Arcebispo de São Paulo
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