22 - VALE APENA LER DE NOVO: CEMITÉRIO BOM PASTOR DE CACHOEIRA ALEGRE
Fernando Mauro Ribeiro
22 de out. de 2024
4 min de leitura
Atualizado: 29 de out. de 2024
Baseado em documentos obtidos na Diocese de Mariana, acredita-se que o Cemitério Bom Pastor de Cachoeira Alegre, tenha 178 anos. Há quem diga que de acordo com o que se ouvira de seus antepassados, já existia um cemitério que era guarnecido por cerca de arame farpado e ficava atrás da Capelinha. Sabendo que a primeira Capela foi construída em 1858, conclui-se que ele é de fato do século XIX e anterior à data que se imaginava ser. Não se sabe se ele antecedeu à Capela ou se foi construído posteriormente. Não há como precisar a data em que ele foi aberto, mas acredita-se que, entre os anos 1858/1860
O cemitério de Cachoeira, acolheu a muitos, que tendo caminhado pelas sendas de Deus e tendo passado por este vale de lágrimas, foram habitar sempre na paz, no silêncio, na quietude daquela colina. Aquele solo guarda os restos mortais de gente simples, de gente importante, de personalidades. Lá repousam escravos, tropeiros, operários, doutores, sacerdotes, barões, baronesas, coronéis, prefeitos, vereadores, artistas da terra, artistas da bola, músicos, jogadores de futebol, soldados, escritores, poetas...
Na década de 1920, na então administração de padre Messias Passos, o cemitério recebeu algumas benfeitorias, realizadas pelo Cura, através de doações.
Em 1956, padre Raimundo Nonato de Carvalho era o pároco, sabe-se que o prior desenvolveu campanha para a construção de muros, passeios, jardineiras e alguns túmulos.
Na década de setenta, padre Adriano Kett era o pároco. Na sua gestão, respondia pela administração do Cemitério o presidente da Comissão de Obras da Matriz, senhor Erlande Rodrigues de Assis.
Ainda não havia implantado na paróquia a Pastoral do Dízimo, não se cobrava taxas para sepultamento nem mesmo uma anuidade, referente à manutenção do cemitério. Sem nenhuma fonte de renda que não fosse a realização dos eventos religiosos e doações por parte de paroquianos devotos; a Paróquia fazia a limpeza: capina e caiação dos túmulos por ocasião do Finados. Durante alguns anos, o senhor José Elisiário foi o encarregado de realizar os sepultamentos, era o coveiro.
Algum tempo depois, diante das dificuldades mencionadas, o que se via, era um cemitério em meio ao matagal, os muros e túmulos sem pintura, o portão permanentemente aberto e a presença rotineira de animais: bois, cavalos, cabritos, carneiros... um ambiente propício à ação dos vândalos.
Em 25 de outubro de 1991 o Conselho Administrativo da Paroquia se reuniu com o padre Tiago Prins, nosso pároco, à época, com o compromisso de se formar uma equipe para desenvolver o trabalho de restauração do cemitério.
Usando da palavra o reverendo fez mais que um pedido, foi um apelo para que Mário Lúcio Ribeiro e Fernando Mauro Ribeiro, aceitassem assumir a administração do Cemitério. “Formar uma equipe para efetuar esse trabalho seria o ideal, pois residimos em Muriaé e isso dificulta nossas ações, contudo, aceitamos fazer parte desse grupo” argumentou Lúcio Ribeiro, falando em nome de ambos.
O padre disse que se empenharia na formação dessa equipe. Fez incontáveis convites para que se juntassem a eles, outras pessoas que os ajudassem a levar a termo tal trabalho. Mesmo diante da insistência do Cura, não se ouviu um “sim”, não se conseguiu um voluntário, e ele se disse frustrado: “Não sei se pela dificuldade de se lidar com cemitério e sepultamentos, se por falta de tempo, não sei se por acomodação ou má vontade... me deixa triste não encontrar na comunidade, mais colaboradores”, disse ele.
“Argumentando que o fato de ambos não residirem em Cachoeira, dificultaria muito o trabalho e que ainda havia de se encontrar alguém lá, que pudesse dar sua contribuição, o padre perguntou: O que fazer? Dificilmente, alguém que está empregado terá disponibilidade para se dedicar em tempo integral, por isto é que havia pensado numa equipe de seis a dez membros”, concluiu o vigário, em um de nossos encontros.
Mas, mesmo com suas limitações e com o pouco tempo disponível, eles abraçaram a causa e deram início aos trabalhos. Distribuíram na Matriz o seguinte Boletim, informando da situação atual do Cemitério Bom Pastor:
BOLETIMINFORMATIVO: CAROS PAROQUIANOS,
Cachoeira Alegre, 22 de outubro de 1991
Caro Paroquiano.
“Lembrai-vos de vossos guias que vos pregaram a Palavra de Deus. Considerai como souberam encerrar a carreira, e imitai-os na fé”. (Hebreus 13, 7).
Atendendo ao pedido de nosso pároco, de efetuar obras no Cemitério Bom Pastor, na Paróquia de São Sebastião, em Cachoeira Alegre, consciente das necessidades e da enorme dificuldade em dar sequência às obras já iniciadas na Paróquia, nos reunimos com o padre Tiago Prins, onde novos planos foram traçados para a comunidade paroquial.
Ficou decidido que, para melhor administrar o Cemitério de Cachoeira Alegre, é necessário que se faça um recadastramento de todos os túmulos. Será criada uma taxa anual para se processar as urgentes mudanças. Na impossibilidade de formar uma equipe, Lucio Ribeiro e Fernando Ribeiro estão encarregados de efetuar esse trabalho e contam com a colaboração de todos.
Nos dias 01 e 02 de novembro de 1991, ambos fizeram circular em Cachoeira Alegre um segundo boletim informando sobre as obras já iniciadas e esteve de plantão no cemitério durante todo o Dia de Finados, orientando os proprietários de túmulos que só visitam o local nessa ocasião, apresentando-lhes o projeto e convencendo-lhes da necessidade de viabilizá-lo; o que só seria possível com a criação de uma taxa e que contava com a compreensão de todos, efetuando o pagamento da anuidade.
Esclareceram também que a taxa de conservação a ser cobrada anualmente por cada túmulo é de 10% do salário mínimo. Essa taxa, deveria ser paga até o mês de dezembro de cada ano e, com o objetivo de esclarecer, dizia que:
Espórtula: É uma esmola, uma gorjeta que se dá espontaneamente.
Dízimo: É algo espontâneo. É um gesto de gratidão a Deus e um sinal de participação com a sua comunidade religiosa.
Taxa: Se paga por um serviço prestado. É uma questão de justiça.
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