22 - DIA DO TRABALHADOR DOMÉSTICO – O FUTURO DO TRABALHO PARA JOVENS
Fernando Mauro Ribeiro
22 de jul.
3 min de leitura
Nessa data, comemora-se o Dia Internacional do Trabalhador Doméstico, que surgiu a partir de uma história sobre a luta por melhores condições de trabalho e reconhecimento da categoria.
É também celebrado em 27 de abril no Brasil, em homenagem a Santa Zita, considerada a padroeira das empregadas domésticas. A data foi escolhida por ser o dia do falecimento da santa que trabalhou desde jovem cuidando de uma casa e foi reconhecida por sua generosidade com os pobres. Mas, vamos falar aqui, do futuro do trabalho para jovens:
A edição deste ano, do relatório “O Futuro dos Empregos, estimou que 22% das ocupações seriam impactadas até 2030 por tecnologias e mudanças geográficas, climáticas, econômicas e geopolítica. A pesquisa mostrou ainda que 40% das competências exigidas deve mudar e que 63% dos empregados citam a lacuna dessas habilidades como o principal problema que enfrentarão. Mudanças no mudo do trabalho são comuns. Mas hoje vivenciamos um processo de transformações exageradas, que afetarão em especial os jovens.
Reflexos disso foram identificados em outras pesquisas (The State of the Global Teenarger Career Prapatation, divulgadas há duas semanas perla OCDE. Com base no Pisa (exame internacional com jovens de 15 anos), o estudo revelou que, de 2000 a 2003, a incerteza dos estudantes sobre as carreiras que pretendem seguir, mais que dobrou, chegando a 39% na média da OCDE.
Jovens de maior vulnerabilidade socioeconômica, justamente os que mais necessitam de orientação profissional, são os que menos relatam receber apoio.
O Brasil não participou do levantamento, mas outros estudos identificaram desafios semelhantes. Um deles, publicado em 2023 pelo instituto Cíclica (“O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”), destacou piora nos indicadores de rendimento e educação entre jovens, situação que é mais grave entre aqueles de maior vulnerabilidade, com maior probabilidade de começarem a trabalhar em empregos precários.
Também em 2023, um levantamento da consultoria Vozes para o instituto Unibanco (“Inclusão Produtiva de Jovens”) sistematizou 60 práticas nacionais e internacionais, tendo como referência os princípios da ONU na iniciativa “Decent Jobs For Youth”. Ações bem-sucedidas envolvem estratégia de educação formal e não formal (ajuda na elaboração de currículos, preparação para entrevistas), sempre criando pontes com contratantes reforçadas até com parte da formação no trabalho. Também se destacam orientações individualizadas, plataformas de emprego e subsídios, sempre priorizando os mais vulneráveis.
A missão da escola deve submeter à formação para o trabalho, mas não pode se resumir a isso, sobretudo porque é necessário articular essa dimensão fundamental com preparo para cidadania e o pleno desenvolvimento humano.
Tampouco faz sentido espalhar currículos considerando apenas demanda do mundo e de serviços, pois entre outras razões, em épocas de grande inconstância ocupações outrora consideradas promissoras podem, em pouco tempo, estar obsoletas.
Em resumo, a educação não pode estar a serviço apenas do mundo do trabalho, mas é preciso construir pontes qualificadas entre esses dois mundos. Especialmente no caso da educação profissional, é importante sempre procurar alinhamento entre as demandas (efetivas ou potenciais) dos setores privado ou público com as oportunidades de qualificação oferecidas aos estudantes, considerando seus projetos de vida expectativas e ambições. Os setores econômicos precisam ser envolvidos também em busca de soluções de qualificação ao longo da vida, considerando a plasticidade do mundo do trabalho, inclusive para aqueles que já deixaram a escola, tema de minha última coluna nesse espaço.
Isso tudo não elimina a necessidade de criar, aprimorar ou expandir a estratégias de orientação vocacional desde a educação básica. Diante do risco real de agravamento das desigualdades, gente de menor nível socioeconômico precisarão de maior apoio. Não esqueçamos que, além de ter acesso a oportunidades de formação e orientação mais precárias, esse público é duplamente prejudicado por não possuir redes de mobilidade social que facilitem o acesso ao primeiro emprego ou permitam a recolocação ao longo da carreira, algo corriqueiro em famílias com maior capital econômico e cultural. Essa lacuna precisa ser preenchida por políticas públicas e privadas, de novo, envolvendo tanto instituições de ensino, quanto o mundo do trabalho.
Se, por um lado, tamanha responsabilidade não pode recair apenas nos ombros da escola (e nem caberia culpa-la pelo aumento das incertezas), por outro, ela, como sempre, tem papel fundamental para que jovens desenvolvam variadas e complexas habilidades (cognitivas socioemocionais, criativas...) que facilitem sua adaptação em cenários de instabilidade e imprevisibilidade. Daí porque, conforme repetidas vezes argumentei nesse espaço, o principal mantra da educação moderna é a capacidade de aprender a aprender.
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