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20 - PELOS CAMINHOS DA MÚSICA - O BRASIL É SERTANEJO

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • 20 de set. de 2024
  • 6 min de leitura

O gênero de bota e chapéu domina o gosto musical dos brasileiros. MPB e Rock? Viraram músicas de minoria, nas classes A e B.

      

QUE TIPO DE MÚSICA REPRESENTEA O BRASIL?

Eis uma questão discutida há muito tempo, que desperta opiniões extremadas. Há fundamentalistas que desejam impor ao público nascido das raízes socioculturais, o samba. Outros, igualmente nacionalistas, desprezam tudo aquilo que não tem estilo. Sonham com o império da MPB de Chico Buarque e Caetano Veloso. Um terceiro grupo, formado por gente mais jovem, escuta e cultiva apenas a Música internacional, em todas as vertentes. E mais ou menos ignora o resto.

       A realidade dos hábitos musicais dos brasileiros, agora está claro, nada tem a ver com esses estereótipos. O gênero que encanta mais da metade do país é o sertanejo, seguido de longe pela MPB e o pagode. Outros gêneros em ascensão, sobretudo entre as classes C, D e E, são o funk e o religioso, em especial o gospel. Rock e música eletrônica são músicas de minoria

É o que demonstra uma pesquisa pioneira, feita entre agosto de 2012 e agosto de 2013, pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). A pesquisa Tribo Musicais... O comportamento dos ouvintes de rádio sob uma nova ótica, faz um retrato do ouvinte brasileiro e traz algumas novidades.

Para quem pensava que a MPB e o samba ainda resistiam como baluarte da nacionalidade, uma má notícia: os dois gêneros foram superados em popularidade. O Brasil moderno não tem mais o perfil dos anos 1970 que muitos gostariam que se eternizasse. A cara musical do país agora é outra.

       A pesquisa partiu de uma base de dados de 20 mil ouvintes de rádio de todas as classes sociais e faixas etárias nas capitais brasileiras, entrevistados de 2012 a 2013. O rádio  foi escolhido por ser o meio de comunicação mais usado no Brasil: 73% da população escuta rádio com frequência. Entre os ouvintes, a maioria 96% ouve música, 70 % notícia, 31% esporte,(aqueles que ainda gostam de ouvir as partidas de futebol no radinho de pilha) e 21% humor.

“Começamos pelo universo do rádio como meio de comunicação móvel primordial e constatamos que a música está no DNA  do rádio brasileiro”, afirma Juliana Sawaia, gerente do Ibope que coordenou a pesquisa. O que une todos é a música. O Brasil é um país movido à música”, afirma Thiago Magalhães, assistente de pesquisa. “queiramos ou não, hoje ele é movido à música sertaneja”.

O gênero sertanejo liderado pelos artistas Paula Fernandes e Michel Teló, assumiu uma posição hegemônica nos últimos cinco anos. Bateu os antigos campeões, o pagode e a MPB. Em 2012 e 2013 dois terços das músicas tocadas no rádio, são sertanejas, de acordo com a empresa de pesquisa Crowley que afere a audiência musical.

       Cerca de 65% das músicas pertencem ao sertanejo, enquanto o pagode, em segundo lugar, acupa apenas 19% do tempo de rádio. Rock e MPB – representados pela banda Capital Inicial e a cantora Ana Carolina, entre tantos outros – abocanha 3% cada um, em comparação com os 5% do funk que vem crescendo com os sucessos de Naldo e Anitta.

       Nossa pesquisa confirmou o triunfo sertanejo”, afirma Juliana. “Analisamos a demografia da música e dividimos a faixa de ouvintes por idade e classe para concluir que a música sertaneja se disseminou por todos o país em várias classes sociais e faixas wtárias”. Dos entrevistados, 58% disseram ouvir esse tipo de música.

       Os analistas do Ibope estabeleceram seis perfis principais de consumidores brasileiros  de música, dividido por renda e idade. A partir daí, estudaram o perfil do ouvinte e a flexibilidade do gosto musical de cada grupo. Fizeram uma descoberta evidente: a escolha de certos gêneros e estilos musicais está intimamente associada à divisão do público em idade e classe social.

 

O PANCADÃO E A FÉ: 38% DOS FUNKEIROS TAMBÉM OUVEM MÚSICA RELIGIOSA

        A maior parte do público sertanejo pertence à Classe C, entre 25  e 34 anos e nível escolar fundamental. O pagodeiro pertence à mesma classe social do sertanejo É napenas um pouco mais jovem e mais flexivel. Enquanto 61% do sertanejo ouve pagode, 81% dos pagodeiros  gostam de sertanejo. Uns e outros se distribuem pelo país inteiro e mantem a mesma preferência quando se trata de diversão. O churrarco é o lazer favorito, depois o bar e a  balada.

       A mesma forma, roqueiros e emepebistas partilham características. Integram as classes A e B e têm wacolaridade superior. Os emepebistas se concentram em Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Os roqueiros em Belo Horizonte e Porto Alegre. A maior parte dos roqueiros (47%) diz ouvir MPB no rádio. Cerca de 30% dos fãs de MPB diz ouvir rock. São exigentes e globalizados.

       Os roqueiros não vão só a shows como formam bandas. Os emepebistas gostam de produtos de luxo materiais e culturais. A faixa etária dos roqueiros é mais baixa, entre 25 e 34 anos, ao passo que os ouvintes de MPB têm entre 25 e 34 anos. A gente pode dizer que os roqueiros ouvirão MPB quando ficarem mais velhos, diz Magalhães. Assim como funqueiros que gostam de Anitta, um dia ouvirão mais gospel de Aline Barros.

       Os ouvintes de funk e músicas religiosas fazem parte das classes D e E e não completaram o ensino fundamental. A faixa etária do funkeiro é mais baixa, entre 12 e 19 anos em comparação aos 25 a 34 anos dos devotos do gospel. O fanqueiro tem mais presença no Rio de Janeiro e Salvador. O ouvinte de som religioso, em especial o gospel comparece em peso no Nordeste.

       O funqueiro aprecia musica religiosa, 38% dizem que escutam hinos. E 80% deles, ouvem sertanejo ou pagode. Os funqueiros são espontâneos e os religiosos conservadores. Engana-se quem pensa que a turma do gospel é fechada. Cerca de 22% deles ouvem funk. 56% sertanejo e 50% MPB. Se dizem otimistas em relação ao futuro – o mesmo estado de espírito dos funqueiros.

       Desses dados, pode-se inferir que a trilha sonora do Brasil se alterou profundamente, nos últimos dez anos. A classe B que antes definia o gosto, cedeu primazia às classes C,D e E. A mudança rebaixou a qualidade dos produtos musicais. Samba e MPB exibem um material artístico mais refinado que os pancadões e os arrochas sertanejos. Esse universo de gosto se tornou relevante se tornou essencial na tendência de consumo.

       As consequências imediatas segundo o crítico  Tárik de Souza, foi o rompimento entre o grande público e a linha histórica da grande música brasileira, que começou na década de 1920, com o samba urbano de Sinhô e segue até os dias de hoje, na MPB posterior à Tropicália. Por que isso aconteceu? Não se permitiu ao público uma escolha democrática como havia nos tempos da Bossa Nova e dos Festivais, quando tudo tocava no rádio. De Tom Jobim a Altemar Dutra, passando pelos Mutantes, afirma Tárik.

Pena que os versos de Gil em “rep” não tenham a força de lei: “O povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe” Para o produtor e empresário Tom Gomes, o ouvinte.” Os sertanejos são trabalhadores incansáveis. Eles fazem shows diante de dezenas de milhares de pessoas todos os dias do ano, ao passo que Chico Buarque faz um show a cada cinco anos, para uma plateia de eleitos. Não admira que Paula Fernandes seja mais popular que ele.

Gomes aponta um dado que dá vantagem aos  sertanejos: a flexibilidade. Eles se adaptam a todos os públicos. Para conquistá-los, fazem pagode sertanejo, axé sertanejo e assim por diante. Enquanto que o pessoal do rock e da MPB perseguem o purismo e a mesmice. Roqueiros e emepebistas são órfãos do tempo em que as gravadoras regiam o consumo, afirma Gomes.

Hoje, como os sertanejos notaram, tudo acontece nos shows. Em grande parte dos 5.70 municípios brasileiros, o povo não vê shows de MPB, diz Gomes. Vê os sertanejos. Há esperança para todos, porém. Como mostra a pesquisa, as seis tribos sonoras que simbolizavam a nação, não estão congeladas, nem são estanques. Elas se misturam, evoluem e se influenciam mutuamente. Contribuem a seu modo, para a riqueza e a diversidade da música brasileira. Parte dela, toca menos no rádio. Hoje. Amanhã será outro dia.

Luiz Antonio Giron – Revista Época - 2013

 

NOTA:

       Como se pode ver, essa matéria foi veiculada em setembro de 2013, há onze anos. É obvio que ao longo desses anos, muita coisa mudou. Esse é o retrato de mais de uma década, quando publicamos aqui. A trouxemos de volta, em “Vale a pena ler de novo”, apenas para uma reflexão de nossos leitores. De fato, o universo da música é mesmo  cheio de nuances.

Sou amante da MPB, curto Pagode, já fiz parte do grupo que ouvia as internacionais, há belas canções religiosas e gosto de algum sertanejo. Não curti o tal do “arrocha” e não consigo digerir os “sertanejos universitários” que, num festival de repetidas baboseiras, repetidas frases em que a mulher é menosprezada, é tida como um objeto, que faz apologia ao álcool, a meu ver, em nada contribuem para o crescimento e a musicalidade de um povo. Mas, eles estão aí e há quem goste. Haja vista a matéria acima, apesar de datada de setembro de 2013.

Fernando Mauro Ribeiro

 
 
 

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