A crise diplomática entre Brasil e Israel teve início no domingo após uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando a crise humanitária e o elevado número de mortes causadas pela ofensiva israelense em Gaza ao Holocausto, Israel declarou ontem, o chefe de Estado brasileiro “persona non grata” no país, até que ele se retrate, enquanto o Brasil chamou de volta o seu embaixador em Tel Aviv e convocou o embaixador israelense em Brasília, a dar explicações.
As declarações de Lula foram feitas em entrevistas a jornalistas no hotel em que ele estava hospedado em adis Abeba, capital da Etiópia, onde foi convidado para discursar, no sábado, na sessão de abertura da cúpula da União Africana. No encontro ele criticou tanto Israel quanto o grupo terrorista palestino Hamas, que lançou em sete de outubro passado o ataque mais mortal ao território israelense desde a criação do Estado judeu, em 1948, deixando mais de 1.100 mortos, capturando cerca de 250 reféns.
O embaixador brasileiro em Israel Frederico Meyer, foi convocado ontem para dar explicações sobre a declaração de Lula, que causaram indignação ao governo israelense. Autoridades do país, consideraram inaceitável a comparação da ação em Gaza com o Holocausto, o extermínio planejado de seis milhões de judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler na Segunda Guerra. Lula também classificou como “genocídio” as mortes em Gaza onde já morreram mais de 28 mil pessoas nos bombardeios israelenses.
EXPOSIÇÃO DESNECESSÁRIA
Em vez de uma reunião na Chancelaria, como é a praxe, Meyer foi chamado a um local totalmente fora dos padrões diplomáticos: o Museu do Holocausto, em Jerusalém. O lugar escolhido foi considerado um “circo” por diplomatas brasileiros. Para integrantes do Itamaraty, foi uma exposição desnecessária do embaixador.
O chanceler israelense mostrou a Meyer o formulário com os nomes de seus avós, assassinados na Segunda Guerra. No domingo ele já havia afirmado que a fala de Lula “profana a memória daqueles que morreram no Holocausto” é um “ataque antissemita grave”. Em meu nome de todos os cidadãos israelenses, diga ao presidente que ele é “pessoa non grata” em Israel, até que retrate suas declarações – disse, Katz ao embaixador, acrescentando – Não vamos esquecer, não vamos perdoar.
PRESIDENTE NÃO VAI PEDIR DESCULPAS, DIZ ASSESSOR
A avaliação do governo brasileiro é que a declaração de Lula está sendo usada politicamente pelo premier de Israel Benjamin Netanyahu, que enfrenta uma série de crise de popularidade e protestos internos por causa dos mais de cem reféns ainda em poder do Hamas e seus aliados em Gaza após mais de quatro meses de guerra. Netanyahu disse que as palavras do presidente do Brasil “são vergonhosas e graves”.
O assessor para Assuntos Internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, classificou como “um absurdo” a decisão de classificar Lula “pessoa non grata”. Quem tem que pedir desculpas é Israel, e não é ao Brasil não, mas à humanidade, disse Amorim, garantindo que não há hipótese de pedido de desculpar por parte do presidente.
O ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira convocou ontem o embaixador israelense no Brasil Daniel Zonshine, para ele prestar esclarecimentos sobre as medidas tomadas pelo governo de seu país. Os dois se encontraram para uma reunião no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, onde Viera está para a reunião de ministros estrangeiros do G20.
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