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19 - QUERO MAIS SAÚDE – MODA E BACTÉRIA

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • 19 de jul.
  • 3 min de leitura

O surgimento da agricultura costuma ser culpado pela disseminação de algumas doenças causadas por bactérias. A ideia é que, quando começamos a domesticar a animais, e entramos em contato com os carrapatos e piolhos deles, e consequentemente, com os germes que carregam. Estudo recente aponta para outro desenvolvimento tecnológico que pode ter ajudado nesse processo: a roupa de lã.

   A Borrelia recurrentis é uma prima da bactéria que causa doença de Lyme, bem conhecida no Brasil e transmitida por carrapatos, com diversos animais como reservatórios.

Esta bactéria, foi provavelmente, a responsável pela “peste amarela”, não foi tão famosa quanto a peste negra, que ocorreu na Europa no ano 550, pelas febres episódicas conhecidas como “febres de suor”, no período entre 1445 e 1551 e por vários episódios documentados na Irlanda durante os séculos 17 1 18.

     A doença ainda existe hoje, chamada de “febre recorrente transmitida por piolhos” (LBRF no acrônimo em inglês). É endêmica na Etiópia, e aparece também na Somália e no Sudão.

Os sintomas são dores de cabeça muito intensas e febres muito altas e recorrentes. Se não for identificada e tratada com antibióticos, pode causar danos em órgãos internos e morte.

    Estudo publicado na revista Science traz algo muito interessante sobre a história desta bactéria. Ela infecta exclusivamente humanos, e se transmite sobre piolhos da pele, mais raramente pelos conhecidos piolhos do couro cabeludo.

Como, em geral, bactérias de artrópodes costumam ter reservatórios animais, alguns pesquisadores ficaram curiosos em estudar a origem da LBRF, que por infectar apenas seres humanos, é uma notável exceção.

   Os cientistas analisaram DNA de bactérias em esqueletos de pessoas que morreram no Reino Unidos nos últimos cinco mil anos. Se a bactéria esteve presente nessas pessoas, quando morreram, o DNA deveria ser fácil de identificar e como ela não tem “primas” que moram no solo, a chance de identificação positiva ter sido causada por contaminação após morte é bem baixa. Os pesquisadores conseguiram isolar DNA de bactérias ancestrais, e reconstruir o genoma de quatro exemplares com estimativa de idade entre 600 e 2300 anos).

    Com técnicas de biologia molecular que permitem interferir o tempo que levou para mudanças genéticas aconteceram, o time conseguiu montar uma linha do tempo, de uma estimativa de quando a bactéria se especializou em piolhos de humanos. O resultado indica que, no passado, ela provavelmente se transmitia por carrapatos, como a doença de Lyne, infectando animais, e com o tempo, migrou para piolhos, infectando somente humanos. 

    O momento mais provável do “pulo” é algo entre 5 mil a 6 mil anos atrás. Durante esta transição, o grupo observou a perda de alguns genes, e diminuição total no tamanho do genoma, o que é comum em bactérias que se especializa: vão deixando pelo caminho genes que não são mais necessários. A vantagem aqui é econômica. Se os genes não são necessários, é vantajoso não precisar gastar energia com eles.

     O período determinado coincide com a chamada Era de Bronze, e mais precisamente quando a humanidade começou a usar lã para roupas! As roupas feitas de lã, ofereceram oportunidade perfeita para a bactéria para passar de pessoa para pessoa, via piolho, e aos poucos a bactéria foi se especializando ao novo vetor e ao novo hospedeiro.

    O contato próximo de pessoas na cidade certamente contribuiu também. É uma doença que vem tanto da agricultura como da urbanização.

O estudo mostra como esta coevolução de patógeno e hospedeiro funciona, dependendo do contexto local e momento histórico, contribuindo para nossa compreensão de como as doenças surgem, e neste caso, a influência de um fator cultural: o uso de lã para fabricar roupas.

Nathalia Pasternak – Microbiologista, presidente do IQC, professora na Universidade de Colúmbia (EUA) e (FGV-SP) e autora de livros...

 

 
 
 

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