Não pense você, caro leitor, que título e matéria têm a ver comigo. O título é apenas uma frase do poema “Fico”, de Torquato Neto, que você verá na íntegra, ao final dessa matéria.
Por que será que estou a escrever sobre esse cara? Penso que seja porque admiro a obra do artista. Tenho um CD que é uma coletânea do cantor em minha coleção e que gosto muito.
A princípio pensei em escrever sobre ele no dia da TV (11), porque ele foi em se tempo, um homem da mídia. Em seguida, pensei no Dia do Protesto (14), com a intenção de protestar em função do esquecimento a que ficou. Depois, no Dia do Historiador, pois o vejo como tal. Logo em seguida, pensei no Dia dos artistas (23), porque é inegável o artista que foi ele. Pensei também no Dia do Psicólogo (27), em função do desfecho que teve a sua existência e finalmente, o Dia do Filósofo (28), pois de filosofar o Torquato também entendia.
Mas, poderia falar desse jovem também no dia do Poeta, dia do Compositor, do Cantor e outras tantas atividades que ele exerceu em seus 28 anos de vida. Todo dia é dia de lembrar de quem se gosta. Logo, hoje é dia de falar de Torquato Neto.
É uma história triste, onde há depressão , suicídio, mas há também a dor do amigo, do pai, a empatia e a solidariedade presentes. Fique atento, pois nessa edição, no dia 27 - estaremos abordando a mente humana - quando conversaremos com um profissional da área.
Voltemos, pois, ao artigo: Em minha coleção de 1138 discos de vinil, tenho muitos elepês de Caetano Veloso. Lá, há muito tempo, descobri a música Cajuína, que me intrigou, pela letra e melodia. Não tinha acesso à internet e só fui entender, um dia, quando ouvi Caetano respondendo a uma fã que tinha como eu, a mesma pergunta.
Recentemente, no entanto, quando eu assistia em Cachoeira Alegre o Show do Criança Esperança, esse tema foi abordado e Caetano disse novamente, o que havia dito antes e que eu já sabia e, depois cantou a referida música. O que disse?
A história é que quando o amigo dele, Torquato Neto, se suicidou, ele foi anos depois a Teresina para um show, reencontrou com o pai de Torquato no hotel e seguiu com ele para a sua casa.
Lá, Caetano chorava muito a saudade do amigo e o pai de Torquato, consolando-o, foi ao quintal, colheu uma rosa menina, deu-a a Caetano e lhe serviu uma cajuína (aquela bebida típica do Piauí). Depois de alguns dias, Caetano escreveu a música “Cajuína”, que você deve conhecer. Se não, veja a letra no final dessa matéria.
TORQUATO NETO
Torquato Pereira de Araújo Neto. Jornalista, letrista, agitador cultural, jornalista e poeta brasileiro. Nasceu a 9 de novembro de 1945, Em Teresina Piauí. Morreu no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1972.
Filho único de um promotor influente de Teresina, estudante interno e depois externo no Colégio Marista, em Salvador, encontrou-se com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Jose Carlos Capinam, no teatro Vila Velha. Indo para São Paulo, iniciaram parcerias, participando com o grupo de vários festivais durante os quais inventaram o Tropicalismo.
Nessa época de extrema repressão política e social, escreveu letras para músicas como: "Aqui é o fim do Mundo", "Dia D", "Geleia Geral" entre outras.
Com Gilberto Gil compôs sucessos como, "Louvação", "Domingou", "Zabelê", "A Rua" ou "Encarnada" em que dividiu a autoria com Geraldo Vandré. Com Caetano Veloso compôs ""Mamãe Coragem"; "Deus vos salve a casa Santa", "Ai de mim"; "Copacabana", "Nenhuma Dor". Com Edu Lobo: "Pra Dizer Adeus", "Lua Nova", "Veleiro". Com Jards Macalé: "Lets Play That. Com Carlos Pinto: "Todo dia é dia D". E "Três da Madrugada".
Ainda que estivesse integrando à música e à poesia tropicalistas, atuou na imprensa, militando nos jornais, Correio da Manhã, Presença, Jornal da Tarde, Veja e no jornal revolucionário chamado Sol.
No início da década de 70 dedicou-se ao jornalismo diário, colaborando com a crônica intitulada "Geleia Geral" na Última Hora, jornal de Samuel Wainer e de onde surgiria seu único livro póstumo: "Os Últimos dias de Paupéria", organizado pelo poeta Wally Salomão e Ana Maria Silva de Araújo Duarte, sua viúva.
Alcoólatra, de temperamento difícil, teve várias crises emocionais, consideradas pelos seus terapeutas como "surtos psicóticos". Devido a essa patologia foi internado oito vezes em hospitais psiquiátricos do Piauí e do Rio de Janeiro, incluindo o hospital de Engenho de Dentro, de Nise da Silveira. Tentou-se suicidar por quatro vezes e ao final, nem família e nem amigos conseguiram conviver com seus humores.
Afastado dos colegas tropicalistas compôs seus últimos trabalhos com músicos iniciantes, como João Bosco, Luiz Melodia e Geraldo Azevedo, contudo, apesar de ter uma produção pequena, queimou quase todos os originais. Aos 28 anos, no dia do seu aniversário, após longa conversa com sua ex-esposa, deprimido, trancou-se no banheiro, vedou a porta e a janela com lençóis, abriu o gás do chuveiro e se matou asfixiado. Na ocasião deixou o seu último poema, chamado "Fico".
“Eu, brasileiro, confessominha culpa, meu pecadomeu sonho desesperadomeu bem guardado segredominha aflição”. Gilberto Gil e Torquato Neto
O SUICIDÁRIO! Como em um martirológio: os primeiros que caírem serão os nossos santos. Em memória dos grandes nomes que um dia levaram a mão sobre si e nos legaram o seu melhor. Acendemos velas aos grandes artistas, filósofos, cientistas, políticos, todos que carregaram uma mente sensível e que decidiram por partir mais cedo. Se um dia estes homens e mulheres estavam fadados a túmulos sem lápides e ao opróbrio, hoje eles serão celebrados e respeitados.
Candelabro aceso para Torquato Neto (1945 - 1972).
"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar".
Em sua nota suicida. Thiago era o filho de dois anos de idade.
FICO
Não consigo acompanhar a marcha do progresso de minha mulher ou sou uma grande múmia que só pensa em múmias mesmo vivas e lindas feito a minha mulher na sua louca disparada para o progresso. Tenho saudades como os cariocas do tempo em que eu me sentia e achava que era um guia de cegos. Depois começaram a ver e enquanto me contorcia de dores o cacho de banana caía. De modo que FICO sossegado por aqui mesmo enquanto dure. Ana é uma SANTA de véu e grinalda com um palhaço empacotado ao lado. Não acredito em amor de múmias e é por isso que eu FICO e vou ficando por causa de este amor. Para mim chega! Vocês aí, peço o favor de não sacudirem demais o Thiago. Ele pode acordar.
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