17 – CARNAVAIS DESPEDIDAS E SAUDADE: A FELICIDADE É UMA ETERNA CONSTRUÇÃO
Fernando Mauro Ribeiro
17 de fev. de 2024
4 min de leitura
No ano passado – fevereiro de 2023 – saí no Bloco “Rio, Dois Amores” na Barra da Tijuca, brinquei carnaval, tomei o meu chope – triscando de gelado, na praça de alimentação do shopping Rio II, e fizemos – Maíza e eu – alguns passeios pela cidade.
Eu, que já havia caminhado pela areia úmida e fofa da praia da Reserva, na Barra, estava revigorado, pronto para a maratona do Bloco e lá fui eu. A namorada que havia se comprometido com uma amiga, foi com ela para o Barra Shopping. Na concentração era grande a minha expectativa: um Arlequim sem Colombina no meio da multidão. Mas segui o cordão ao som daquelas marchinhas. Desde a concentração, enfrentei uma batalha de confete e serpentina e segui vestido de alegria pelas ruas do Condomínio.
Alguém comentou de que o cortejo atravessaria a avenida Abelardo Bueno e circularias pela cidade olímpica. Nisso, o líder disse que o bloco permaneceria nos domínios do condomínio mesmo, por uma questão de segurança e que depois se reuniria com todos nos bares do shopping, onde a festa teria sequência com animada roda de samba e o bom pagodinho.
Já em casa, sentado na sacada, espiando o tempo, tomando mais uma cerveja, me veio à mente, um antigo samba de Jair Rodrigues, que diz: “Depois do carnaval eu vou tomar juízo, há muito que eu preciso me regenerar...” Então disse para mim mesmo: “Talvez seja esse o último Carnaval que saio às ruas para brincar”! Era minha intenção me isolar em casa, no meu apartamento, em Muriaé – talvez eu tomasse uma cerveja na piscina da cobertura, mas a opção primeira, era mesmo o recato, o silêncio, o isolamento. E de alguma forma, isso se confirmou esse ano.
No domingo, depois de ir à missa na Matriz São Paulo, fui a Cachoeira, registrar em fotos o evento para esse informativo, tomei cerveja e batuquei com amigos na Barraca da Piscina na casa de meus pais e, retornei à noite, depois que acordei com a bateria dos blocos que saíram espalhando alegria pelas ruas de Cachoeira Alegre. Estava muito bonito de se ver.
Já em meu apartamento, em Muriaé assisti aos desfiles na TV, fiz minhas refeições, noutro dia almocei fora, mas confesso que meus dias foram diante da televisão, da sala pra cozinha e da cozinha pra sala. Sem cerveja, só no suco e água. Iniciei minha abstinência de álcool na segunda feira de carnaval e deve se estender pelos 40 dias do período quaresmal. Vi tudo de Carnaval. No Rio e em São Paulo já têm as escolas campeãs de 2024, mas mesmo depois de uma quarta feira de Cinzas, ainda tem folia rolando nas ruas.
Amanhã, por exemplo, um dos megablocos mais esperados da programação vai desfilar no Centro. Às 7h, a poderosa Anita leva seu trio para concentrar na Rua Primeiro de Março e aguarda e aguarda cerca de cem mil pessoas, de acordo com a Prefeitura do Rio – informação obtida através do JH Jornal Hoje da rede Globo. No mesmo dia, às 11h, tem o Quizomba concentrando no Circo Voador, na Rua dos Arcos, bloco que saúda diferentes gêneros musicais. Já no domingo, o Monobloco encerra a agenda de Megablocos para 2024. O grupo leva Trio Elétrico e bateria para as ruas, às 8h, e aguarda cerca de 300 mil foliões.
Sei que preciso aprender a trafegar sem medo no belo e turbulento oceano das emoções. Digo isso porque o passado às vezes, me traz uma carga enorme de saudade, que me faço inúmeras perguntas, como por exemplo: O que é ser feliz? Hoje sou mais ou menos feliz que ontem? Perguntas para as quais nem sempre tenho respostas, pois estou certo de que “a felicidade não existe pronta, não é uma herança genética, não é privilégio de uma casta ou uma camada social, um seleto grupo. A felicidade é uma eterna construção”.
Ano passado, nessa data, eu estava no interior de uma antiga construção, “O mais belo monumento colonial que o Brasil possui”! Como o descreveu Dom Henrique Galland Trindade 1897 – 1974. E é de verdade uma obra de arte. Se nos é possível contemplar aqui na terra, algo tão grandiosamente belo, fico a imaginar o quão impactante deve ser cruzar os portões do Paraíso.
O Mosteiro de São Bento, no Rio, é belíssimo. Caminhei silenciosamente e me detive diante dos altares das oito Capelas que compõem aquele templo. A Capela-mor, lugar central da Igreja onde os monges se reúnem para a celebração da santa missa data do biênio 1639-1640. As pinturas ou painéis do forro foram executados entre 1670 e 1684 e representam aparições de Nossa Senhora, quase todas a Santos pertencentes à Ordem Beneditina.
Lembro-me bem, que quando deixávamos esse local sagrado – já, cá em baixo, no pé do morro, próximo aos elevadores – na portaria de acesso, fomos alertados pelos funcionários de que não deveríamos caminhar a sós por aquela via, pois um megabloco se aproximava e o risco de assalto era iminente. Visitamos o CBB Centro Cultural Banco do Brasil e uma igreja no Centro, e retornamos de Uber. Ainda vi a multidão que seguia pela Presidente Vargas e pensei: Os carnavais das antigas marchinhas, ainda fazem a alegria dos foliões em seus Blocos. Sem querer ser saudosista, mas é a irreverência, a alegria em sua essência. Basta saírem às ruas e em poucos minutos elas arrastam multidões atrás de si.
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