14 - O RECOLHIMENTO QUARESMAL. POR QUE 40 DIAS?

Nesse ano, oficialmente o Carnaval começa no dia 18 – sábado de carnaval – mas o povo já está nas ruas desde o início do mês. E há blocos carnavalesco para todos os gostos, idades, todas as cores, credos, clubes e escolas de samba e quadras espalhados pelas principais cidades do país. No dia 22, terá início o período da Quaresma, que como sabemos compreendem 40 dias. Vamos entender o porque desses quarenta dias, sobre a Penitência, o Jejum, a Liturgia, as celebrações matinais... Tudo o que o Tempo Quaresmal, que se encerra com a celebração da Semana Santa. , e o seu ponto alto que é o Tríduo Pascal.

A Quaresma é esse tempo de recomeço, de volta, de retomada, de reviver a vida batismal. Este é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender de nossos pecados celebrando o sacramento da penitência deixando-nos conduzir por novos caminhos em Cristo.

A Quaresma dura 40 dias: começa na quarta-feira da Semana Santa excluída a Celebração da Ceia do Senhor, quando iniciaremos o Tríduo Pascal. Ao longo deste tempo, sobretudo, na liturgia de domingo, fazemos um esforço para recuperar o ritmo e o estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.

Trata-se de um tempo privilegiado de conversão, combate espiritual, jejum e escuta da Palavra de Deus. Entramos no “deserto” com Cristo. Estamos refazendo o caminho do Êxodo. O número quarenta é importantíssimo, pois tem toda uma significação bíblica. No passado era o tempo aproximado de uma geração.

Encontramos muitas referências a esse número, mas me recordo de algumas: os quarenta dias do Dilúvio (Gn 7,4), os quarenta dias de Moisés no Monte Sinai, os quarenta anos de Israel no deserto (Ex 16,35); Nm 14,33; Dt 29,5); os quarenta anos do reinado de Davi (2Sm 5,4), os quarenta dias do caminho de Elias (1Rs 19,8) e, sobretudo, os quarenta dias do Senhor no deserto (Mt 4,3; Mc 1,13; Lc 4,2); preparando sua vida pública, mas também o tempo de Jesus entre a Ressurreição e a Ascensão (At 1,3).

É digno de nota que o mesmo Jesus que entrou na penitência dos quarenta dias aparece transfigurado com dois outros penitentes: Moisés e Elias. Por isso mesmo, o cuidado da Igreja de reservar os quarenta dias para a penitência. É o tempo da Quaresma. É tão antigo que tem suas raízes na própria prática da Igreja Apostólica.

A cor litúrgica deste tempo, é o roxo, que significa penitência. É um tempo de penitencia, de conversão espiritual, tempo de preparação para o mistério pascal. Esse tempo litúrgico, é caminho de fé-conversão para Cristo, que se faz servo obediente ao Pai até a morte de cruz. Na espiritualidade quaresmal, três pontos são ressaltados: 1 – Oração, 2 – Jejum e 3 – Esmola, como já disse aqui outras vezes.

Na quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa, os cristãos fazem abstinência de carne e jejuam. O jejum nos faz recordar que somos frágeis e que a vida que temos é um dom de Deus que deve ser vivida em união com Ele. Somos convidados a fazer alguma penitencia durante todas as sextas-feiras da Quaresma. A Quaresma é um tempo propício para lutarmos contra os nossos defeitos.

Podemos aproveitar essa época litúrgica para crescer em conhecimento próprio, fazendo um exame mais aprofundado da nossa vida para descobrir o que nos aproxima ou nos afasta de Deus. Depois, marcaremos metas de melhoras e nos esforçaremos por atingi-las. Se alguma vez falharmos, recorremos com humildade e contrição ao sacramento da Penitência e recomeçaremos com alegria. Se fizermos a nossa parte, Ele não deixará de nos conceder as graças necessárias para uma verdadeira conversão.

Cardeal Orani Tempesta – Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro