14 – DIA NACIONAL DA POESIA
- Fernando Mauro Ribeiro
- 14 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
QUASE QUE EM PRANTOS
Aqui, solitário e confinado,
No quarto, esse altar sagrado
Onde tropeço nas correntes,
Tentando me livrar das amarras,
Dessa angústia que parece latente.
Não sei se devo,
Mas, não consigo ser eloquente,
então escrevo.
Não é uma brincadeira de criança.
Nem tenho afiadas as garras,
Quero fugir dessa farra,
Não vou entrar nessa dança.
Uma muralha de solidão se impõe diante de mim
Lutas e revoluções começam assim.
Mas, sem armas, como debelar?
Dores e saudades vão se revelar.
E a porta entreaberta pode me libertar.
Não vejo senão esse par de algemas
Que teima em me aprisionar.
Atados os pés e mãos,
Interditado o caminho à cidade-coração.
Mesmo desafinado, digo: que amo a liberdade
E que canto em tom maior,
Canções de um exílio que sei de cor
E peço a Deus que as palavras não firam
Mas se eternizem nesse meu altar-mor.
Fernando M. Ribeiro
Gênova, 03-11-2018
CORAÇÃO EM DESCOMPASSO
Há dias que caminho às escuras.
Anoitece,
e ouço Deus chamando as criaturas
para uma prece.
Somos filhos do amor,
E nascemos para amar.
Mas me diz, porém, a dor
que já nem sei mais rezar.
O fogo do amor gerou cinzas de solidão,
A fumaça que se eleva
E o tempo que se leva
Para se esquecer uma traição,
Para curar-se de uma paixão.
O menino que em mim estava guardado
E que há muito se havia calado,
Acelerou o mecanismo da esperança,
Fez meu coração acelerado,
Percorreu as estradas do passado
Pisou no freio das lembranças,
E sentiu-se de pés atados,
Os sentimentos algemados
Estacionaram numa rua de sonhos adormecidos
Que fora rua de chão batido,
Rua, de bois e boiadeiros,
De carros e carreiros,
Hoje, tomado de assalto,
Vejo que és: Rua Mario Ribeiro,
Coberta de asfalto,
És de muitos, o paradeiro.
Meu coração aventureiro,
Recorda os livros já lidos,
O tempo ali vivido.
Isso é minha Cachoeira.
Minha alma se despe, viaja o mundo
E volta sempre, com saudade no olhar
Desejo sincero e profundo
De aqui estar, de rever os amigos
E a poesia me acenando, diz: Venha comigo!
Aracaju, 24 de setembro de 2022
Fernando Mauro Ribeiro
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