13 - SEMANA SANTA: OLHARÃO PARA AQUELE QUE TRANSPASSARAM
Fernando Mauro Ribeiro
13 de mar. de 2024
3 min de leitura
O apóstolo e evangelista São João esteve presente no Calvário por ocasião da crucifixão de Jesus. Ele nos descreve o que viu: “Um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro... isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: Não quebrarão nenhum dos seus ossos. E outra escritura diz ainda: Olharão para aquele que transpassaram” (João 19, 34-36)
Somos convidados a fazer uma leitura desta cena, uma leitura contemplativa. Quem nos ajuda nesta contemplação é o Padre Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus.
O último ato da Paixão de Cristo – a abertura do lado do seu corpo – explica e resume toda a vida do Salvador. Seu coração foi aberto como a fonte de todas as graças. Ao olhar para o Crucificado, nossa atenção se fixa em três pontos:
1° ponto: A ferida. Estamos no Calvário. Depois da morte de Jesus a multidão se afastou; seus amigos ficaram. Alguns soldados vêm para verificar como estão os corpos, e, se for o caso, apressar a morte dos crucificados, para que o espetáculo do seu suplício prolongado, não entristeça o dia de sábado.
Um dos soldados, vendo que Jesus estava morto, abriu o seu lado com uma lança. Essa ferida exterior é a revelação simbólica da ferida interior, a ferida do amor. O amor: eis quem levou Jesus à morte! Cristo morreu porque quis, foi o amor que o matou... Jesus mesmo havia antecipado: “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas... ninguém me tira a vida a vida, mas eu a dou pela própria vontade...” João 10, 15-18).
Nosso senhor permitiu este golpe de lança para chamar nossa atenção para o seu coração e para nos fazer pensar no seu amor, que é a fonte de todos os mistérios da salvação. A abertura do lado de Jesus, é como que a fonte que regava o paraíso terrestre; é como a fenda do rochedo que deu a água para saciar a sede do povo de Israel no deserto.
2° Ponto: o Sangue e a Água. A lança do soldado, ao retirar-se, deixou jorrar uma dupla fonte de Sangue e Água. Para os padres da Igreja, naquele momento, do lado aberto de Cristo, brotaram os Sacramentos, canais preciosos da graça da salvação e, particularmente, o Batismo e a Eucaristia. Essa Água que saiu de seu lado nos lembra a água que foi derramada em nós, por ocasião do nosso Batismo; nos lembra, também, a água que nos purifica no Sacramento da Confissão.
O Sangue que saiu do lado de Cristo nos recorda o Sangue que caiu todos os dias nos cálices dos altares, para se expandir pelo mundo todo, consolar a Igreja sofredora do Purgatório e reanimar a Igreja que combate sobre a terra.
3° Ponto: “Olharão para aquele que transpassaram”. Essa profecia do profeta Zacarias foi recordada por São João (Jo, 19,38), que aplica essas palavras à abertura do lado de Jesus. Essa ferida abre para nós o Coração de Jesus. Espiritualmente, nós aí lemos o amor que tudo deu, mesmo a vida. Nesse amor, reconhecemos o motivo e o fim de todas as obras divinas. Deus nos criou, nos salvou e nos santificou por amor. No Coração de Jesus, que dá a sua vida por nós começamos a entender a maravilhosa definição de São João: “Deus é amor”.
Temos necessidade de contemplar essa ferida para ver como somos amados e como, por nossa vez, devemos amar. Contemplando-a, aprenderemos como um coração deve ser capaz de agir, sofrer e dar tudo, até a morte, por Deus e pelos outros. Em nossas dores, por maiores que forem, tenhamos uma certeza: elas já foram assumidas por Jesus; Ele as sofreu antes de nós. Pensemos, também, no Amor que não é amado. A abertura do Coração de Jesus nos recorda seu Amor, sua bondade e seu sofrimento. Ele espera de nós o amor, a gratidão e a compaixão.
Diante do quadro do Calvário, nasce em nosso coração uma oração: Eis-me aqui, Senhor, para viver contigo e em ti. Não permita jamais que eu me separe de ti e que te esqueça! Amém!
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