A noite quente de fim de primavera, terminava com jogo modorrento no Canindé. O empate por 0 a 0 entre Portuguesa e Inter de Limeira começava a encaminhar o Corinthians para a decisão do Campeonato Paulista. Foi quando Dener ganhou a bola no meio de campo e partiu em velocidade. Passou por dois zagueiros, deu um drible da vaca no terceiro e, quando o goleiro ameaçou a sair em seu pé, tocou por cobertura.
O gol espetacular fez o torcedor português correr pelo corredor da tribuna de imprensa do Canindé, esbanjando seu carregadosotaque lusitano. Igual a este gol, nunca vi aqui dentro.
Nem Maradona havia visto igual, quando já no ocaso de sua carreira, desfiando o resto de seu talento com a camisa do Newell’s Old Boys, recebeu o Vasco para um amistoso em Rosário. Dener transpirava juventude e exibia o mesmo talento daquela noite de quarta-feira, no Canindé. Pela ponta, enfileirou cinco jogadores do Newell1s, antes de cruzar. O amistoso terminou com o placar 0 a 0. Mas Dener ficou famoso na Argentina pelos aplausos que recebeu de Diego Maradona.
Contudo, o destino não quis ver Dener jogando mais tempo. O acidente que o matou na noite de 18 de abril de 1994, aos 23 anos, recem completados, juntou seu nome àqueles desaparecidos da história, a não ser pelos depoimentos de pais e avós que se encantaram no passado. Exemplo de Maneco, craque do América dos anos 40, eternizado apenas pelo depoimento de José Trajano. Como o de Isaías, craque do Madureira e do Vasco, de talento precocemente encerrado pela tuberculose.
Dener, gênio dos tempos modernos, não parou pela violência dos zagueiros ou novas doenças. Parou com seu Mitsubishi em um poste, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Naquele mesmo ano, o Vasco cumpria campanha impecável em busca do tricampeonato, o primeiro de sua história. Dener fazia dupla com Valdir, e William e Yan formavam o meio de campo. Mas ninguém queria saber de outro jogador senão Dener.
Espetáculo em todos os jogos, embora se cobrasse dele desempenho adequado em jogos mais duros, nos clássicos. Como se Dener negasse fogo na hora mais complicada. Esqueciam-se os críticos do desempenho assombroso de Dener no Campeonato Gaúcho, do ano anterior, jogando pelo Grêmio. Emprestado pela Portuguesa, disputou pelo Grêmio aquela competição e arrebentou com as defesas mais ferrenhas do interior. Acabou campeão.
Naquele início de 1994, entre um e outro jogo, encantado Dener era nome cobrado nas colunas assinadas por Matinas Suzuki na Folha de São Paulo. Cobrava o colunista, um ataque de sonhos, formado por Muller, Romário, Bebeto e Ronaldo, em companhia do endiabrado meia Vascaíno. Não deu tempo. Dener não formou a equipe do tetra, de um futebol insosso nos campos dos Estados Unidos. .
Em vez disso, deve estar fazendo os anjos rirem de seus dribles mágicos. Ou o aplaudirem como fez um dia, Diego Armando Maradona.
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