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12 - DIA NACIONAL DAS ARTES

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • 12 de ago. de 2021
  • 4 min de leitura

Há, evidentemente, muitas formas de arte, defini-la até pode-se, mas corre-se o risco de enquadrá-la, ou aprisioná-la, o que seria um pecado imperdoável, já que a arte é, a meu ver, todo tipo de manifestação... diz-se de arte, a execução prática de uma ideia, uma profissão, uma habilidade. Agora, em agosto, a 12, se comemora o Dia Nacional das Artes, e a 10 do mês, no ano da graça de 1823, nascia Gonçalves Dias. Duas datas que, na França ou na Inglaterra, por exemplo, seriam dignamente comemoradas. Aqui no Brasil, não. Para bem lembrar esta data, vou publicar uma matéria do saudoso professor, escritor e poeta Luiz Gonzaga da Silva, impresso na Gazeta de Muriaé, em 10 de agosto de 2018, cujo título é: “Um diálogo amoroso em verso”.

“Provavelmente, vão passar de liso, essas duas datas, nesse país grande e bobo, que está mais preocupado em fazer greve de fome por políticos decadentes do que cultuar os grandes nomes de sua cultura. Não é preciso lembrar que Gonçalves Dias é uma das mais importantes figuras do nosso Romantismo literário, tanto que versos seus, do poema “Canção do Exílio”, constam do Hino Nacional Brasileiro.

Ao mesmo tempo, me ocorre também que, agora em 2018, temos a comemorar também uma efeméride importante em nossa história litero-cultural: o centenário de morte de Olavo Bilac. A não ser em circuitos restritos como nas Academias de Letras e, em especial, na Academia Brasileira de Letras, se realizarão atividades para lembrar o “Poeta das Estrelas”.

Não sei se nas escolas de ensino fundamental e médio deste imenso país esquecido haverá momento de se lembrar Bilac e sua poesia. Provavelmente, não, o que é lamentável, sem dúvida. Fosse aniversário de um Luã Santana, de um Wesley safadão, de uma Annita qualquer, ou de uma dessas intragáveis duplas sertanejas, o negócio seria outro. Enfim, cada povo tem os ídolos que merece. E cultura, ponto final.

Voltemos, contudo, a Bilac. Estou a reler ampla biografia sobre ele, neste ano, a fim de proferir uma palestra sobre Bilac e sua poesia, no CESEC, em novembro próximo. E não vou acumulando só conhecimento bibliográfico sobre o poeta, deparo-me com detalhes de sua vida, deveras interessantes, que na verdade, eu desconhecia. Detenho-me em um deles: a vida amorosa de Bilac, principalmente no que se refere à paixão incontida que nele deflagrou Amélia de Oliveira, irmã de outro famoso poeta parnasiano, contemporâneo de Bilac, Alberto de Oliveira.

Essa paixão, foi, todavia, proibida pela família da moça, , em razão da vertiginosa e nem sempre equilibrada vida boêmia do Bilac, em suas andanças pelo Rio de Janeiro da belle époque, por alguns versos considerados licenciosos e por suas alegres noitadas em restaurantes e confeitarias da época, notadamente, a Confeitaria Colombo, no centro do Rio, uma espécie de templo sacrossanto da belle époque carioca. Lá estive, algumas vezes, a última delas, foi, quando retornava de uma viagem à Europa em companhia de alguns amigos, numa parada do navio da MSC, antes do desembarque em Santos – SP. O grifo é por conta do redator, que lá esteve recentemente, como mencionado acima.

Mas o que me interessa é o seguinte: como na época não havia ainda os modernos meios de comunicação, que a mídia hoje oferece, nem por isso Bilac e Amélia deixavam de se “ligar”. Como ela era também poetisa, tanto quanto ele, poeta, era a poesia que os unia, independente do telefone que àquela época, já existia.

Amélia era uma dos dezessete irmãos da família Oliveira. Mas seu coração, a Bilac pertencia. Bilac, em 1883, começa a frequentar a casa dos Oliveira e se apaixona por Amélia, que retribui. Em 1885, iniciaram o namoro. Essa paixão inspirou boa parte dos sonetos da Via Láctea composto por 35 sonetos.

Impedidos pela família dela de consumarem seu amor, Bilac escreve: “Minha Amélia (...) Antes de tudo quero dizer-te que te amo, agora, mais do que nunca, que não me sais um minuto do pensamento, que és minha preocupação eterna, que vivo louco de saudade, (...). Eis a resposta de Amélia, em um soneto, por ela composto e enviado a Bilac:

Não te peço a ventura desejada,

Nem os sonhos que outrora tu me deste,

Nem a santa alegria que puseste

Nessa doce esperança já passada.

O futuro de amor que prometeste,

Não te peço! Minha alma angustiada

Já não te pede, do impossível, nada,

Já te não lembra aquilo que esqueceste!

Nesta mágoa sofrida ocultante,

Nesta saudade atroz que me deixaste,

Neste pranto que choro ainda por ti,

Nada te peço! Nada! Tão somente

Peço-te, agora, a paz que me roubaste,

Peço-te, agora, a vida que perdi.

A esta lancinante demonstração de solidão amorosa, Bilac responde com esse outro soneto:

Durma, de tuas mãos nas palmas sacrossantas,

O meu remorso. Velho e pobre, como Jó,

Perdendo-te, a melhor de tantas posses, tantas,

Malsinado de Deus, perdi... Tu foste a só!

Ao céu, por teu perdão, minha alma, que encantas,

Suba, como por uma escada de Jacó.

Perdi-te... E eras graça, alta entre as altas santas,

A sombra, a força, o aroma, a luz... Tu foste a só!

Tu foste a só!... Não valho a poeira que levantas,

Quando passas. Não valho a esmola do teu dó!

- Mas deixa-me chorar, beijando as tuas plantas,

Mas deixa-me clamar, humilhado no pó:

Tu, que em misericórdia as madonas suplantas,

Acolhe a contrição do mau... Tu foste a só!

Claro que, hoje, isso seria impossível. Quem assim o fizesse seria crucificado nas redes sociais e tachado como imbecil congênito, idiota, psicoterápico ou, no mínimo, esquizofrênico incurável e, talvez, em última análise, sociopsicopata.

Para escapar disso mesmo e, talvez por isso mesmo, Amélia e Bilac juraram amor eterno e morreram solteiros. Isso me lembra os circos antigos, que apresentavam uma peça dramática intitulada E o céu uniu dois corações. Só não me recorda se os personagens se chamavam Bilac e Amélia. Acho que sim!

Luiz Gonzaga da Silva

 
 
 

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