12 – DIA DO CANTOR: POR MELHOR QUE SEJA O REPERTÓRIO, NÃO HÁ MÚSICA QUE POSSA COMPETIR COM A DE UMA ONDA DO MAR
Fernando Mauro Ribeiro
12 de jul.
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Vejam que primor a matéria assinada por Joaquim Ferreira dos Santos: O Rio de Janeiro é uma cidade escondida, cercada de quiosques por todos os lados. Alguns falam em 700, querem outros que esses monstrengos são mais de mil, mas ninguém diverge da evidência de que eles abafam o que o balneário tem de mais bonito – a praia, a menina que mergulha, as Cagarras, a linha do horizonte e lá atrás da linha do horizonte, nos dias claros de outono, a estupefação poética de imaginar os picos das mais elevadas montanhas africanas.
É quiosque demais, prestando serviços de menos. Um paredão de barracões de zinco, descoloridos pelos borrões mais absurdos, todos empenhados em sujar de disparates o cartão-postal que é o ganha pão de uma cidade: o visual de tirar o fôlego, a sensação de que o paraíso se não for ali no Posto 9, ou mais adiante no 10, é só andar mais um pouco , atravessar o canal e com certeza, ele estará lá, podes crer, no Posto 11.
Essas novas ordens da prefeitura para disciplinar as praias são interessantes, podem fazer com que as pessoas entendam que num lugar desses, por melhor que seja o repertório do Fundo de Quintal, cantado pelo crooner, não há música que possa competir com a de uma onda do mar. O mar - já dizia o velho compositor baiano em parceria com o velho cronista carioca - quando quebra na praia é bonito, é bom de se ouvir e não cobra couvert.
O decreto percebe que o estresse invadiu a calma felicidade de relaxar na areia e que o entorno virou um pegapracapá. É tímido, porém, na necessidade urgente de radicalizar no que interessa – atirar uma boia de salvação para o personagem fundamental de uma cidade, Sua Majestade, o pedestre.
Esse pacato cidadão, pobre coitado, pagador esforçado de impostos virou vítima da involução urbana. Jaz no limbo dos direitos perdidos, um otário de segunda classe, atropelado pela horda vitoriosa que corre atrás dele sobre quatro patas, digo quatro rodas, duas rodas, triciclo de supermercado, carrinho de rolimã, patinete, skate ou qualquer outra máquina que no momento está sendo inventada para amanhã ir à caça de seus calcanhares na rua, na chuva ou na calçada. Quando ele quer respirar desse sufoco, olhar a praia... cadê a praia que estava aqui?
Tirem esse muro de quiosques do caminho que eu quero passear com meu amor, viver a delícia básica de bater perna, sem precisar me espremer, humilhado, no cantinho de calçada que o barraqueiro deixou. O espaço livre no Rio, é encarado com desperdício, algo que deve ser ocupado por uma máquina registradora – e aos domingos, no meio do calçadão do Leblon, uma passarela onde a cidade se encontra, instalaram um inacreditável parque de diversões, com três imensos pula-pulas, uma estrovenga que favorece um comerciante e interrompe o lazer de milhares de pessoas.
A palavra é “desocupem”. Saiam da frente. O espaço livre é luxo fundamental para a sobrevivência. Serve para oxigenar o espírito, encontrar os amigos, ver as modas, festejar a alegria de estar vivo, boquiabrir-se com o visual e desenhar a existência, a partir de sua dimensão humana – aquela mesma que parafraseando os dois filósofos cariocas, Cidinho e Doca já funkearam outrora: Eu só quero é ser feliz/ Andar tranquilamente na cidade onde eu nasci.
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