11 - PASSEIO PELAS CIDADES HISTÓRICAS DE OURO PRETO E MARIANA
Fernando Mauro Ribeiro
11 de abr. de 2024
5 min de leitura
Nosso estado é rico. Rico na acepção da palavra, rico de verdade. É difícil falar da riqueza de nossa Minas Gerais: a música, a arte, a cultura, a arquitetura, o barroco, o teatro, cinema, grandes artistas, museus, Inhotim – um museu a céu aberto – nossas Igrejas, os casarões, o ouro, o minério que é extraído e exportado em centenas de toneladas, nossos heróis, nossa gente, nossa história. São 586.528 quilômetros quadrados de Minas Gerais divididos entre 853 municípios. Para se ter uma ideia dessa grandiosidade territorial, é preciso juntar Portugal e Espanha para dar o tamanho de Minas.
Hoje estive em Ouro Preto e Mariana, duas cidades que trazem uma enorme carga de mineiridade e brasilidade, seja na história política, religiosa, artística, cívica e cultural.Em Mariana visitei a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, uma beleza indescritível com suas paredes, teto e altares impregnados de 450 quilos de ouro.
Fiquei impressionado ao visitar uma mina. Imaginar que durante algum tempo – 30 minutos talvez – eu estive caminhando no subsolo, num túnel, no interior de uma mina, a uma profundidade correspondente a um prédio de 15 andares, sabendo que acima de mim passavam ônibus e caminhões, veículos e toda a gente; que acima de mim havia praças, ruas e rodovias, prédios e centenas de casas, havia uma cidade. A princípio temi a visita em razão de uma claustrofobia que tenho – ou tive – e mesmo depois de adquirir os ingressos e adentrar o túnel pensei em desistir. Mas fui resoluto, disse para mim mesmo: vou. E fui!
Ouvi a narrativa do guia ao longo daquele percurso é formidável, são informações que nos são passadas com riqueza de detalhes, podemos tocar na história, interagir, ser parte dela. Não consigo, no entanto, dimensionar o sofrimento, a crueldade sofrida por aqueles homens, negros, que escavavam a pedra um dia inteiro, - às vezes, se chegava a 12 horas de trabalho – sem remuneração, já que recebiam como pagamento uma tigela de comida.
O ouro retirado das minas, eram conduzidos em lombos de mula, pelo caminho conhecido como Estrada Real. Caminho que nos dias de hoje, se passa por 170 municípios em estrada de terra e, aqueles que fizerem esse percurso ganha-se um certificado. Em se tratando de Estrada Real, são três. São 3 os caminhos promulgados pela Coroa Portuguesa: Ouro Preto até Parati (RJ); Diamantina a Ouro Preto e Ouro Preto até ao Rio de Janeiro.
Em Ouro Preto visitei museus, Igrejas, Monumentos como o que há na praça principal que leva o nome de Tiradentes, em homenagem ao mártir da Inconfidência Joaquim José da Silva Xavier. Ali, naquele local, em poste de grande desonra, tamanhas humilhação e crueldade, foi exposta a cabeça do mártir Tiradentes; onde se lê:
“Este paiz das Minas era fortíssimo em tudo a não ir toda a sua riqueza para fora, seria a terra de maior utilidade”. (Atos da Devassa)
“Ao Proto-Mártir da Liberdade Nacional – Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes.
*21 de abril – 1792
*21 de abril 1892
Há algumas curiosidades, histórias interessantes que nos contaram os guias, al longo desses dias de passeio, que prometo, noutra ocasião os registrarei aqui.
Visitei também em Mariana, o Pelourinho. Local onde os escravos eram amarrados com correntes e açoitados com chibatas – às vezes, até à morte – onde “jorravam rubras cascatas dos corpos dos negros, entre gritos e chibatas”. Lugar onde se viveu um passado de dores e profunda humilhação praticada peala estupidez humana dos feitores, a mando dos senhores de engenho.
Visitei em Mariana a antiga Casa de Câmara e Cadeia de Mariana que foram restauradas em agosto de 2023 - com verba federal destinada pelo presidente Luiz Inácio da Silva - e se tornaram museu.
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo com seu rico acervo, altares e paredes revestidos de ouro, cuja construção estava comprometida, também recebeu verba da União no governo Lula para a sua restauração e hoje está aberta à visitação.
A obra de modernização do Museu da Inconfidência foi inaugurada em 22 de agosto de 20º6, sendo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. (Registro gravado na placa de inauguração, à entrada do Museu)
Paga-se um ingresso – preço simbólico de seis reais – para visitar a Igreja de Nossa Senhora do Pilar e o esplêndido Museu existente no seu subsolo. A Igreja de rara beleza traz no presbitério um altar muito lindo onde se encontra a imagem de N.S. do Pilar. O museu existente em seu subsolo guarda peças riquíssimas, como material litúrgico em prata e ouro, peças do vestuário.
“Isto é impacto”, resume a historiadora portuguesa Teresa Vital, enquanto mostra ao ESTADOO DE MINAS, um impressionante conjunto de joias do século XVIII, fabricada com ouro das Gerais. Estamos em Lisboa, no Museu de Arte Antiga, local que encerra uma pequena, mas significativa parcela do tesouro extraído de Minas, entre 1700 e 1800.
Por falta de documentação histórica é impossível dizer com precisão quanto outo foi retirado do solo e subsolo de Minas durante aqueles cem anos. Os cálculos mais confiáveis apontam para uma produção oficial de cerca de 650 toneladas, mais uma produção clandestina de 300 toneladas – nunca é tarde lembrar que todo esse ouro foi praticamente catado à mão, pois as técnicas disponíveis da época, eram bastante primitivas.
A produção do ouro em Minas foi tão alta para os padrões do século XVII que acabou provocando a queda do preço do metal no mercado internacional. O mundo nunca tinha visto sair da terra tanto ouro – principal medida de riqueza da época – em tão pouco tempo.
O ouro retirado de Minas entre 1700 e 1800 representou um terço de todo o metal produzido no mundo entre 1500 e 1800. Eram em média 27 quilos de ouro por dia ou 792 quilos por mês. Pelas contas oficiais a Coroa Portuguesa arrecadou em Minas, cerca de 105 toneladas de ouro com a cobrança do Quinto e outros impostos ligados diretamente à produção do metal.
Soma-se a isto outras 60 toneladas de ouro arrecadadas com taxas diversas (dízimos, passagens e entradas) da aquecida economia de Minas. “Com o decorrer do século, o Brasil torna-se mesmo a Colônia mais importante do Império Português, afirma Teresa que, este ano defendeu uma elogiada tese de mestrado na Universidade de Lisboa sobre a extração de gemas brasileiras e a joalheria portuguesa do século XVII.
Minas surgiu como um imenso pote de outo para os desejos dos Reis de Portugal. Durante 44 anos que duraram seu reinado, Dom João V desenvolveu o hábito de dar fortunas de presente, como se fossem simples mimos. Em 1730 ele mandou um caixote de ouro para a princesa austríaca. No ano seguinte, a Rainha da Espanha recebeu presente idêntico, já o núncio de Roma ganhou 72 barras de ouro em 1792. Morreu o núncio Cavalieri? Então toma lá 24 barras de ouro para ajudar no enterro. Em 1939 o rei chegou ao máximo da generosidade ao presentear ao Cardeal Oddi, uma caixa de brilhantes, ofertando ainda ao portador da encomenda, oito barras de ouro
O ouro mineiro serviu de matéria-prima para uma lista interminável de produtos que circularam pela Europa, ouro em pó ou em barra.
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