08 – UMA PROCISSÃO DE CINCO MINUTOS NA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI
- Fernando Mauro Ribeiro
- 8 de jun. de 2023
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Com uma procissão com duração de apenas cinco minutos, saindo pela porta principal da matriz e entrando pela porta da sacristia, padre João Pedro encerrou a celebração de Corpus Christi, nessa quinta-feira, na Igreja-matriz São Sebastião em Cachoeira Alegre. Acho que ninguém entendeu, mas foi assim. Nosso pároco sequer fez o percurso em torno da igreja, caminhando com os fiéis, conduzindo o Santíssimo pelo Pátio da Matriz e retornando pela porta principal.
Parece irreal, mas foi, dessa forma que se deu a Procissão na Festa de Corpus Christi. Aquela que em outrora, era uma das mais belas procissões com um longo percurso ornamentado com tapetes de serragem e flores, altares, ao som da Banda de Música, seguido pelas crianças vestidas de anjos, o espoucar dos fogos, o dobre dos sinos, e uma multidão de fiéis entoando hinos eucarísticos ao longo das ruas da cidade - foi reduzia a isso.
Em outros tempos, pela manhã, vindo das comunidades rurais, na Praça da Figueira, os fiéis se concentravam na Praça da Figueira, se juntando àqueles que lá já estavam, e iniciava-se a Santa Missa, num belíssimo altar de toalhas de linho e de rendas, com jarras de flores e tapetes. O padre que presidia a solenidade ministrava a primeira bênção do Santíssimo e as pessoas seguiam em procissão pelas ruas: Mário Ribeiro, Padre Messias Passos, Alves Pequeno, contornando a praça São Sebastião, e finalmente à rua Luiz Soares Dias, até a Matriz.
No ano seguinte, fazia-se outro percurso: Rua Geraldo Rodrigues, Barão Teodoro da Silva, Padre Raimundo Nonato e Manoel Fernandes, retornando à Igreja-matriz. Havia essa alternância, para que todos pudessem se envolver na confecção dos tapetes e experimentar a alegria de ver passar, no ostensório, sob o Palio, o Cordeiro de Deus, na porta de suas casas, aplaudido e festejado com os mais lindos e tradicionais cânticos.
Com o tempo, o percurso fora sendo reduzido, os tapetes se encurtaram, mas havia sim, um entusiasmo das pessoas em ornamentar aquele trecho de sua rua. Posteriormente, mais reduzido ainda, os paroquianos se concentravam na Praça São Sebastião e caminhavam até a Igreja. Nos últimos anos, a procissão ficou restrita apenas ao Pátio da Matriz. Esse ano, porém, para decepção dos paroquianos, nem isso se fez. Os tapetes quase que desapareceram, os sinos não tocam mais, a Banda de Música emudeceu, e os fiéis quase nem se locomovem, já que em um percurso mínimo, com dez metros de tapetes provavelmente, se encerra uma das solenidades mais belas da Liturgia de nossa Igreja.
“Meu Deus, o que está acontecendo com nossa paróquia”?
“Por que toda essa pressa do padre, alguém pode dizer”?
“Mas o povo também não questiona nada. O padre faz o que quer, e como quer”! “Mas, e o CPP, Conselho Pastoral Paroquial”?
São apenas alguns comentários que ouvi, ainda na porta da Matriz.
Perguntei a um membro do Conselho: Não vai haver procissão com o Santíssimo? Por que as ruas não foram ornamentadas, ainda que um pequeno trecho?
Estive aqui ontem por volta de 21:00 horas e retornei hoje, às exatas 06:30 horas para dar minha contribuição e não vi ninguém, não encontrei nem um sinal, conclui.
A resposta é surpreendente, mas sem pestanejar: “O padre João não quer que faça”!
Durma-se com um barulho desse! Aliás, eu diria, um silêncio desse, já que ninguém questiona, e se o faz, ninguém se explica, ninguém nos informa!
A CELEBRAÇÃO DA SANTA EUCARISTIA
Pe. João Pedro celebrou com certo entusiasmo a santa missa, sua homilia, como sempre, bastante atraente. E não poderia ser diferente, pois, devemos celebrar jubilosos, bendizendo ao Pai que nos deu seu único Filho, que tomado de amor por nós, naquela Santa Quinta-feira, instituiu o mistério da Sagrada Eucaristia, ao se reunir com os seus amigos naquela Ceia Verdadeira. Com o coração transbordando de amor, mesmo sabendo que seria traído, quis Jesus, além de nos dar a própria vida, fazer-se presente no Pão do altar.
“Fazei isso, em memória de mim”, disse Jesus. E a esse seu pedido, atendemos cada vez que celebramos a Santa Missa, o Memorial da Paixão. Com doçura Ele nos perdoou, quando no alto daquela cruz, exclamou: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem oque fazem”! Assumir esse seu gesto e sua atitude, é viver essa revolução do amor, que pode mudar o mundo sem fazer muito barulho. Esse é o papel daqueles que creem em Deus.
Aos nossos sacerdotes devemos amar, respeitar, ter por eles gratidão e por eles rezar. Afinal, são eles quem consagram Pão e Vinho e nessa transubstanciação, já não mais vinho nem pão. Mas o Corpo e o Sangue de Jesus que nos é dado em alimento. Contudo, isso não nos impede de respeitosamente, fazer-lhes perguntas, questionamentos, querer entender atitudes tão questionáveis como esse descaso com a solenidade de Corpus Christi aqui em nossa Paróquia.
Fernando Mauro Ribeiro
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