08 – NATAL: POR QUE 25 DE DEZEMBRO
- Fernando Mauro Ribeiro
- 8 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Se procurarmos no Evangelho, alguma indicação sobre o dia do nascimento de Jesus, nada encontraremos. Na visão dos apóstolos e evangelistas, não se tratava de um fato digno de registro; no centro de sua pregação estava a ressurreição do Senhor. A preocupação que tinham, ao apresentar Jesus para quem não o conhecia, era clara: apresentar uma pessoa viva, não alguém do passado. É o que notamos, por exemplo, nos dez discursos querigmáticos, (querigma: primeiro anúncio, apresentação das verdades centrais do cristianismo) que encontramos no Atos dos Apóstolos. A ideia fundamental desses discursos, é a mesma: “A este Jesus, Deus o ressuscitou; disso todos nós somos testemunhas” (Atos 2, 32).
Voltemos ao Natal. No tempo do Papa Júlio I, que dirigiu a Igreja do ano 337 a 352, é que foi introduzida essa solenidade no calendário da Igreja. Até então celebrava-se apenas a festa da Epifania – isto é, a manifestação do Senhor aos povos pagãos, representados pelos magos do Oriente. Com esta festa, ficava claro que, Jesus era o Salvador de todos os povos, e não apenas de um só povo. Cabe aqui a pergunta: Por que, então, 25 de dezembro, como data do Natal. O Império Romano, havia decidido que todos os povos deveriam celebrar a festa do “sol invicto”, o renascimento do sol invencível.
Era invencível uma vez que caia (morria) de noite e renascia a cada manhã eternamente. Esse renascimento diário era celebrado no dia 25 de dezembro. O sol era também símbolo da verdade e da justiça, igualdade consideradas invencíveis uma vez que, por mais que muitos tentassem destruí-las, sempre renasciam vitoriosas. O sol, considerado um deus, era uma luz poderosa, que iluminava o mundo inteiro. Igualmente a verdade e a justiça eram luzes poderosas para todos os povos.
Em vez de simplesmente combater essa festa pagã, os cristãos passaram a apresentar Jesus Cristo, nascido em Belém, como verdadeiro sol, já que nos veio trazer a verdade e a justiça. Também Ele, passou pela morte, mas dela ressurgiu, mostrando que era invencível. Seu nascimento, - isto é, seu natal – já que não se sabia qual dia havia ocorrido, passou a ser celebrado no dia do sol invicto. A tradição – louvável tradição – dos presépios é posterior: Na noite de Natal de 1223, em Greccio, Itália, São Francisco de Assis fez o primeiro presépio. Ele maravilha-se que Jesus, o Filho de Deus, havia se encarnado para que pudéssemos conhecer o rosto de Deus.
Com Jesus, passamos a ter em nosso meio, um Deus que “trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado” (Concílio Vaticano II, GS 22). Como não representar então, seu nascimento ocorrido numa gruta de Belém]. Ao logo dos tempos, dos lugares, cada povo foi deixando suas próprias marcas nos presépios. Como é importante que cada lar tenha seu presépio, feito, inclusive com a colaboração das crianças.
Os presépios servem para nos lembrar o anúncio que os anjos fizeram em Belém: “Eu vos anuncio uma grande alegria... nasceu para vós o Salvador”! (Lucas 2,10). O nascimento de Jesus é o fato central da história da humanidade; tanto assim que contamos os anos a partir desse acontecimento. Na proximidade do Natal, caminhemos ao encontro do Menino que nos é dado para contemplá-Lo e lhe dizer: “Vimos te adorar Menino Jesus. Estamos maravilhados diante da grandeza e da simplicidade do Teu amor!
Tu agora está conosco para sempre! Tu, pobre, frágil pequeno... para nós, para mim. Em Ti resplende a divindade e a paz. Tu nos ofereces a vida da graça. Teu sorriso volta-se para os pequenos, pobres e simples. Por isso depositamos a teus pés nossas orações, nossa vida e todos aqueles que não te conhecem e, por não te conhecerem, não te amam. Amém!
Dom Murilo S. R. Krieger – Arcebispo de São Salvador na Bahia e Primaz do Brasil
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