“O bom senso vai muito além da capacidade de distinguir o certo do errado, por estar escudado na sabedoria e, também, por estar intrinsicamente ligado às intuições, contando ainda com os recursos da moral e da ética”.
Inicio esse artigo dizendo que dois conceitos podem e são aplicados ao termo coerência. Linguisticamente falando, o termo coerência diz respeito à aplicação de articuladores ou elementos linguísticos com o objetivo de transmitir coesão e harmonia de pensamento.
Nesse sentido, a coerência fundamenta-se notadamente na lógica e na harmonia dos elementos linguísticos em seu contexto.
Ao contrário, a incoerência, rompe essa lógica.
O segundo conceito de coerência diz respeito à conduta moral e ética que as pessoas apresentam perante si mesmas e os seus semelhantes. É dessa coerência que desejo tratar nessa matéria. Também pretendo abordar o conceito de bom senso.
A COERÊNCIA FUNDAMENTA-SE ...
Esse texto pretende expor o que é coerência e o que é bom senso – como já disse – examinando também a correlação que existe entre esses termos. Vamos, portanto, tratar da importância da coerência e do uso do bom senso na conduta ética das pessoas, aquilo que as levam a praticar o que ensinam.
Quem é coerente é autêntico, não diz uma coisa e faz outra. Abomina profundamente a falsidade que mexe com as consciências adormecidas. Quem estiver atento ao significado desses dois termos e souber usá-los com honestidade, jamais se deixarão enganar, invalidando o ditado popular que diz que “as aparências enganam”.
De conselhos e incertezas o mundo anda cheio! Não vou me meter a dar nenhum conselho aqui. E isso não é uma desconfiança, mas uma verdade: “tenho muito receio das falas e promessas de políticos”. O que é preciso é não querer valorizar as aparências. Ouço muito frequentemente as pessoas se expressarem assim: “é preciso confiar, desconfiando sempre”.
Outro ditado muito utilizado, inclusive no mundo do futebol é: “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”. Em Portugal, esse ditado é grafado assim: “prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, quando a canja é bem-feita.
Dessas premissas decorre que podemos definir a coerência como o equilíbrio que deve existir entre o que a pessoa sente interiormente e o que ela exterioriza com palavras e atitudes perante seus semelhantes. Coerência é, portanto, a exteriorização que a pessoa faz de si mesma em seu comportamento, tanto verbal quanto não verbal.
Portanto, quando a pessoa é coerente existe uma sincronia de cunho moral e ético, entre o que ela sente e o que ela pratica. As pessoas eticamente coerentes infundem confiança, são sérias, mas não carrancudas, não são fingidas e sabem fingir nos momentos oportunos.
Devemos sempre buscar o equilíbrio entre o que pensamos, sentimos e fazemos, pois isso representa uma conquista de conduta. Assim procedendo, nossas relações com as pessoas serão cada vez mais compensadoras, verdadeiras e autenticas. Isso é verdadeiro para nós mesmos, pois, sem dúvida alguma, nos habitua a seguir nossa trajetória evolutiva em paz com nossa própria consciência.
Aqueles que estão sempre atentos às suas falhas e erros de conduta sabem fazer as mudanças necessárias em si mesmos a cada momento e colhem os frutos de uma sadia evolução. Lembramos que cada um de nós estamos na Terra para descobrir nosso próprio caminho, pois de outra forma, nunca seremos felizes seguindo o caminho de outrem.
BOM SENSO
O conceito de bom senso utilizado na argumentação escrita ou falada, bem como nas atitudes, está estritamente ligado às noções de sabedoria e razoabilidade. Ele define a capacidade média que uma pessoa comum possui com o objetivo de adequar regras e costumes às circunstancias encontradas em determinadas realidades. Nesse sentido amplo, a pessoa que usa o bom senso, leva em conta as consequências, podendo assim fazer bons julgamentos ou escolhas.
No fundo, o bom senso é uma forma de tirar proveito da chamada “filosofia da vida”. Analisando com mais simplicidade, o bom senso pode ser definido como o juízo saudável e prudente baseado na simples percepção dos fatos, juntamente com o uso dos atributos da lógica e da razão. Ele está presente e concede aos seres humanos em geral um nível básico de discernimento e julgamento que lhes garante viver de uma forma razoável e segura.
É importante deixar claro que bom senso e senso comum não são a mesma coisa, já que este dispensa o uso da razão e da lógica, na maioria das vezes. Não se deve, pois, confundir esses recursos de argumentação. Note-se que o bom senso está ligado à ideia de sensatez, atributo este que deve ser interpretado como decorrente da capacidade intuitiva de distinguir a melhor conduta em situações específicas e que necessitam de agilidade na tomada de decisões. A frase “a sensatez é elemento central da conduta ética”, do filósofo Aristóteles, é notória.
Assim sendo, o bom senso como o nome induz, é uma capacidade virtuosa de achar o meio-termo e distinguir a ação correta quando há divergências de opiniões. Ao contrário, o senso comum, é um recurso menos seguro, mais próximo das opiniões mal construídas e, portanto, conflitantes.
Reafirmamos, portanto, que o bom senso vai muito além da capacidade de distinguir o certo do errado, por estar escudado no nexo causal, na sabedoria e, também, por estar intrinsicamente ligado às intuições, contando ainda com os recursos da moral e da ética. Para concluir, a cultura e o meio no qual o ser humano vive e transita auxiliam na aplicação do uso do bom senso, levando a tomar decisões mais sábias e corretas, com capacidade de agir e interagir com mais segurança nas ações mais difíceis com que vier se deparar.
Fernando M. Ribeiro (baseado em artigo de Caruso Samel)
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