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05 – AINDA ESTOU AQUI: MERGULHA NUM MOMENTO OBSCURO DA HISTÓRIA

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • 5 de mar.
  • 5 min de leitura

Estou no Rio de Janeiro, em um Condomínio na Barra, é domingo de carnaval. Liguei a TV que, estava passando o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, em Salvador e outras tantas capitais a alegria do carnaval era intensa, mas, vivia-se ali, uma expectativa em relação à premiação do Oscar em Los Angeles. Mantive a TV ligada, coloquei o celular numa live que prometeram que transmitiria o Oscar e, de repente, soaram fogos e gritos de Brasillllll!

Cheguei na sacada para melhor apreciar aquele momento e o que se via e se ouvia eram pessoas nas janelas dos prédios vibrando e cantando, aplaudindo, agitando bandeiras do Brasil. Pensei: que golaço, marcou o cinema brasileiro com esse time de craques escalado e dirigido pelo competente Walter Salles. Que orgulho de ser brasileiro! Que delícia é ver a arte sendo reconhecida com um prêmio máximo. Arte que aqui, é muitas vezes, criticada, boicotada e até deixada de lado por alguns líderes políticos, imprudentes, que são insensíveis a esses valores culturais ao ponto de deixa-la de lado, de abandoná-la de fato.

        Mas, não tem jeito. Um dia eles aprendem. O povo é mais sábio que muita gente que se diz “sabichão”, mas que na verdade, só entende de seus próprios interesses, dos votos que o leva ao poder e os mantêm lá. O povo está mais atento. No Carnaval de Olinda e Recife, Fernanda Torres vira boneco gigante com o Globo de Ouro na mão. Em Salvador, Fernanda é vista no firmamento: um mosaico com drones que formaram o rosto da atriz. Uma grande homenagem, um espetáculo à parte.

        Na Marquês de Sapucaí o samba parou para anunciar a conquista do Oscar de melhor filme internacional. Nas redes sociais a atriz é exaltada. A intérprete de Eunice Paiva dá entrevista para os jornais de maior circulação nos EUA. Na verdade, hoje ela desperta a inveja dos deuses: Celebremos essa conquista de todo o elenco com “Ainda estou aqui”. Elogiada no mundo inteiro, a indicação ao maior prêmio do cinema mundial é apenas a certeza de que sua atuação brilhante já venceu. A estatueta do Oscar entregue ao Walter Salles confirma o que a gente já sabia

        Já deixei na edição de fevereiro, minhas impressões sobre o filme. Já manifestei minha opinião, mas não me custa acrescentar algo ao que já fora dito: O filme que mergulha num momento obscuro da história recente brasileira para falar de memória, fez sacudir o país. Vi três vezes e com que orgulho e contentamento vibrei com a grande conquista do cinema brasileiro. Mas, vale ler a análise impecável de Fabrício Carpinejar que verás a seguir.

Fernando Mauro Ribeiro

 

 AINDA ESTOU AQUI NA CENTRAL DO BRASIL

Nenhuma grandeza vem sem ensaio. O diretor Walter Salles já esteve no Oscar em 1999 com “Central do Brasil” (duas indicações). Quis o destino que ele fosse nossa primeira estatueta dourada, 26 anos depois com “Ainda estou aqui”, eleito o melhor filme internacional, transformando a premiação do cinema em torcida de Copa do Mundo.

       Quis o destino que fosse com a incrível Fernanda Torres, justamente a filha da protagonista de Central do Brasil, a incomensurável Fernanda Montenegro. Ninguém dormiu na noite de domingo (2 de março). Todos torciam para o reconhecimento inédito do país. Fogos de artifício espoucaram no céu, gritos de entusiasmo sugiram de todas as janelas, de todas as varandas, de todas as portas.

       Além de atingir a marca de 5,2 milhões de espectadores no Brasil, Ainda estou aqui cumpriu a proeza de parar o nosso Carnaval. O Carnaval teve uma trégua, uma estranha interrupção de alegria por mais alegria com a notícia da vitória.

       Não recebemos o Oscar pelas mãos de Fernanda Torres na categoria de melhor atriz (Mikey Madison, de Anora, venceu o páreo), mas foi pelo seu sorriso, seu carisma, sua influência que o Oscar acabou sendo trazido na outra categoria. Sua performance serena diante do sofrimento da personagem serviu de fiador do prêmio, o maior cabo eleitoral. Aquele Globo de Ouro que obteve antes, desenrolou o tapete vermelho do Dolby Theatre, em Los Angeles, para nossa passagem.

       Se não fosse por sua atuação desconcertante, jamais chegaríamos tão longe, não teríamos superado Emília Pérez. Fernanda não ganhou o Oscar de melhor atriz para ganharmos o de melhor filme. Fez com que não saíssemos da cerimônia de mãos vazias.

       A trama do filme é baseada no livro do escritor Marcelo Rubens Paiva, que reconstitui a jornada corajosa de mãe, Eunice. Ambientado no período da ditadura militar brasileira, acompanha a luta da matriarca para o regime ditatorial se responsabilizar pela autoria do desaparecimento e morte de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, em 1971, no Rio de Janeiro.

       Em sua estreia no Festival de Veneza, o filme teve 9 minutos e 46 segundos de aplausos de pé. A ovação agora vai durar a eternidade.

Fabrício Carpinejar

 

DEPOIMENTO DE SELTON MELLO

       Agora temos um Oscar. Lindeza de jornada. O filme seria interessante e necessário de qualquer maneira, mas esse troféu celebra a equipe, aditiva o filme e, mais que isso: aumenta consideravelmente o interesse no nosso potente cinema brasileiro. Todos ganhamos hoje, os sensíveis ganharam esse prêmio com a gente, celebrem muito. Isso é histórico.

Selton Mello


VOCÊS NÃO TÊM NOÇÃO DA IMPORTÂNCIA DESSE PRÊMIIO

       Vocês não têm noção da importância de ganhar um Oscar para quem trabalha diariamente com arte. A gente labuta todos os dias para fazer obra de arte e tocar almas por aí.

       E a gente quase nunca tem um reconhecimento, ao contrário, a gente apanha o tempo inteiro. Ter um Oscar é um símbolo para todos os trabalhadores e trabalhadoras do cinema, do teatro, da televisão, das artes visuais, da dança, e mais outras artes. Dia inesquecível! Nós vamos sorrir!

Selton Mello


NÃO MEÇO A VIDA EM TERMOS DE GANHAR OU PERDER

       Fernanda Torres repetiu a história de sua mãe Fernanda Montenegro, que foi a primeira atriz brasileira e latino-americana indicada ao Oscar em 1999 pelo filme Central do Brasil, mas, na ocasião, acabou perdendo a estatueta para Gwyneth Paltrow de Shakespeare Apaixonado.

       Mas o saldo para a triz carioca de 59 anos, nada mais é que positivo, já que ela se firmou como uma das atrizes brasileiras mais influentes e importantes de sua geração.

Em tempos de redes sociais, provavelmente, nunca cinéfilos, atores, diretores e imprensa especializada falaram tanto do que é produzido no Brasil.

       Fernanda Torres deu dezenas de entrevistas, incluindo alguns dos mais importantes programas de entrevistas dos EUA e, por seu jeito divertido (já bem conhecido dos brasileiros) acabou conquistando admiradores de todas as partes do mundo. A filha de Montenegro perde o Oscar mas faz história.

Fonte: BBC News Brasil

      

 
 
 

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