Não há definição melhor para o que foi Telê, como jogador, como o texto publicado por Mário Filho na Manchete Esportiva em 1956. O trecho abaixo resume a sua capacidade de estar em todos os lugares do campo, algo que o fez ser chamado de formiguinha e apontado como o motor do Fluminense em toda a década de 50:
Descobrimos Telê todos os anos. E o curioso é que ele é sempre o mesmo. Por isso Telê se repete. A repetição se esconde, faz a gente se esquecer dele um pouco. O termo não é esquecer. A presença do Telê é uma dessas coisas que ninguém pode ignorar. Ele joga os 90 minutos. Dito assim parece que não é nada demais. O jogo dura 90 minutos, o que pode sugerir, como sugere à primeira vista, que todos jogam 90 minutos.
Jogariam, se não fosse Telê. Quer dizer, a gente não ia desconfiar de que não jogam, se não fosse Telê. Telê trouxe uma nova medida para o futebol. É, de algum modo, o ponteiro dos segundos que não para. Os outros são, quando são, os ponteiros dos minutos. Há, até, os que não são ponteiros: são os cinco, os dez, os vinte, os trinta, os sessenta, os números que os ponteiros atravessam, girando. Ponteiro dos segundos é Telê.
Era assim no tempo em que ocupava a ponta direita do Fluminense, foi assim durante toda a carreira de técnico, iniciada também com sucesso nas Laranjeiras.
O sonho do garoto Telê, na cidade de Itabirito, era ser jogador de seu time de coração. E esse não era outro senão o Fluminense. Em 1950 chegou às Laranjeiras e no ano seguinte fez parte do time montado por Zezé Moreira que ficou conhecida como “timinho”, por não reunir jogadores jovens e sem fama, mas que arrebatou o título carioca contra o Bangu.
No primeiro jogo, improvisado como centroavante marcou dois gols na vitória por por 2 a 0. Na segunda, participou do gol do título, marcado por Orlando Pingo de Ouro. oito anos mais tarde Telê jogava como meia-direita em outra equipe dirigida por Zezé Moreira que mais uma vez conquistou a taça contra o Bangu.
As participações nos dois times fizeram com que Telê Santana tivesse Zezé Moreira como modelo, a partir do momento em que decidiu ser treinador, após passar discretamente pelo Guarani e pelo Vasco no final da carreira.
Como técnico Telê foi campeão carioca pelo Fluminense, onde teve passagem marcante. Em 1969, ano do título, os jogadores foram proibidos de entrar pelo portão principal do clube nos dias de treino por causa do envolvimento do centroavante Flávio com a filha de um dirigente.
Num dia de treinamento, ao encontrar o portão fechado, todos os jogadores pularam o muro do estádio para terem acesso ao campo de treinamento. Telê, com acesso permitido pela portaria social, foi solidário aos jogadores. Também pulou o muro.
Foi campeão brasileiro pelo Atlético Mineiro e pelo São Paulo, e tornou-se o único na história a conquistar como treinador, os quatro principais estaduais do país: paulista, carioca, mineiro e gaúcho. Também foi bicampeão Mundial pelo São Paulo. E formou a mais marcante seleção brasileira da história, depois do time de 1970. Em 1982 o Brasil encantou o mundo com um futebol envolvente, arrebatador. Um time que o tempo não apaga da história, por mais que os ponteiros do relógio teimam em seguir seu ritmo de segundo em segundo. Como Telê.
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