Ícone da TV brasileira, morreu anteontem, 02-02-2023, Glória Maria e deixa um legado de representatividade em diferentes áreas. Referência por sua trajetória profissional e pessoal, a jornalista morreu em decorrência de um câncer; ela deixa duas filhas e uma legião de fãs que há tantos anos acompanhavam sua história e outras tantas belas histórias que contava.
Nascida em Vila Isabel, filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, Glória Maria Matta da Silva, a grande pioneira jornalista, mãe de Maria de 15 anos e Laura, de 14, faleceu no Hospital Copa Star, na Zona Sul. Uma partida difícil de se assimilar, já que sua história profissional e de vida inspirava há tantos anos na TV.
A primeira entrada ao vivo no vídeo, foi em 1971, na cobertura do desabamento do elevado Engenheiro Freyssinet sobre a avenida Paulo de Frontin. Ela também foi a primeira repórter a entrar ao vivo na primeira matéria em cores do “Jornal Nacional” em 1977.
Seu papel como mulher preta também foi fundamental. Foi a primeira jornalista negra a a apresentar o “Fantástico”, de cuja equipe passou a fazer parte desde 1986. Ela apresentou o programa entre 1998 e 2007. Nessa época, recebeu inúmeras cartas de telespectadores reclamando de sua presença no programa. Várias continham ataques preconceituosos. Glória recordou em entrevistas, episódios de racismos em que foi vítima.
Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ser a primeira pessoa no Brasil a usar a lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção. Eu fui barrada num hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia e levei esse gerente aos tribunais. Ele foi expulso do brasil, mas se livrou da acusação pagando uma multa ridícula porque o racismo para muita gente, não vale nada, né! Só para quem sofre, escreveu ela, num post no Instagram, em 2019.
Sua trajetória ficou marcada também por inúmeras reportagens ao redor do mundo e entrevistas com ícones internacionais. Mas, Glória teve uma vida marcante muito além do jornalismo. Seus dois grandes amores, Maria e Laura foram adotadas em 2009, após uma viagem à Bahia. Durante um trabalho voluntário em um orfanato em Salvador, ela se encantou com Maria. Depois de conhecê-la, se apaixonou por Laura, sem saber que as duas eram irmãs biológicas. Foi então que decidiu adotar a dupla.
O processo de adoção levou 11 meses. Antes da chegada das filhas, ela não pensava em ser mãe. E a maternidade para ela, era sinônimo de “jornalismo”.
IDADE É UM NÚMERO QUE NÃO SIGNIFICA NADA
Glória costumava das risadas da curiosidade do público sobre a sua idade. Mas a jornalista ressaltou que jamais escondeu sua data de nascimento: “Viajo o tempo todo, e aonde vou, preciso mostrar minha identidade”. Mas o suposto mistério criado em torno do assunto, fez com que ela embarcasse no tal “folclore”, como diz ela.
Todos ficam intrigados porque tenho quase 40 anos de jornalismo. Três ou quatro gerações já me viram na TV. Então, pensam: “Essa mulher tem 200 anos”. O que fazer? – afirmou Glória numa entrevista à jornalista Patrícia Cogut, do jornal O Globo, em 2019, em que continuou: “Quando falo, ninguém acredita. Então melhor não falar. Não vou tirar a ilusão de um país inteiro. As pessoas querem viver disso. Vamos deixar, né? Por essa razão, ela nascida num 15 de agosto passou a cultivar uma certeza: que o suposto segredo se mantivesse como um enigma. Essa contagem de ano nunca fez parte do meu show – frisou ela numa outra entrevista: “Idade para mim, é um número que não significa nada”.
TODAS AS GLÓRIAS, MARIA
“A Glória abriu para mim, um portal, um portal que eu chamo do mundo que é possível, era meu direito. Era preciso que pessoas como eu ocupassem lugares de destaque. Eu fiquei triste, eu rezei pela Glória, mas depois eu decidi celebrar. Celebrar a existência da Glória, que foi tão essencial para a minha existência e para a minha resistência”.
Maju Coutinho – jornalista
“O legado ficará na televisão que seguiremos fazendo, aprimorando, mas se fará presente, principalmente no coração de toda mulher preta desse país, que quer contar e ser ouvida. Obrigado, Glória!
Aline Midlej – jornalista
“Parecíamos irmãos: brigávamos e implicávamos muito e depois nos abraçávamos. Nossa relação era uma farra. É um pedaço de mim que vai embora”.
(Pedro Bial – jornalista)
“Ela é uma referência para nós como jornalistas, é uma referência como colega. É uma referência para o nosso país”.
Heraldo Pereira – jornalista
“Eu queria ter tido mais tempo com ela. A gente teria feito coisas muito legais”.
(Sandra Annenberg – jornalista)
“Quem é mulher negra, sabe da importância de tê-la visto na televisão”.
(Anielle Franco – Ministra da Igualdade Racial
“Hoje se foi a mulher mais linda, preta, vaidosa...referência para muitas de nós”.
(Cacau Protásio – atriz e humorista)
“O Brasil não estava preparado para a morte da jornalista mais querida”.
Willian Bonner – jornalista
“Muita tristeza com a morte de Glória Maria, das maiores da história de nossa TV”.
Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente da República
“O jornalismo e o povo brasileiro perderam um ícone, hoje. Vá em paz!
Cléo – atriz e cantora
“Glória Maria é única. Assim, no presente mesmo. Querida... “
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