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01 - ESTOU EM CRISE. QUE OS DEUSES DA LITERATURA CONSPIREM A MEU FAVOR

  • Fernando Mauro Ribeiro
  • há 2 dias
  • 6 min de leitura

Antes mesmo de um mês se encerrar, já estou pensando no que direi na próxima edição, e sobre o que escrever no editorial. Bom, o editorial é um preâmbulo e uma síntese do que será a edição. E isso é simples, quando se trata de uma edição diária, - fechada – mas quase que impossível, quando esse veículo é uma espécie de Revista Eletrônica -  saber do que direi daqui a trinta dias, quando se encerra o mês, a edição. Tenho, as colunas fixas, que têm sempre o mesmo enfoque: saúde, futebol, música, religião... assim como sei que em julho, ainda estaremos dançando nos arraiás das julhinas, há também as datas comemorativas que, abordamos em cada edição: Dia do Bancário, do Bombeiro, do Padeiro, da Pizza, da População, do Rock, do Hospital, dos Clubes, dos Homens, da Liberdade de Pensamento; do Trovador, Futebol, Caridade, Amizade, Escritor, Avós, Agricultor e outras, mas que nem sempre falamos de todas elas.

        Uma palavra friccionada à outra, - diz o colunista Francisco Ferreira dos Santos – pode funcionar como as pedras para os antigos nas florestas e, com a mesma intensidade do fogo para eles, dar luz a um texto em que o assunto seja como chegar ao assunto. Então, lembrei-me do poeta Manuel Bandeira: ele dizia que Rubem Braga era um ótimo escritor quando tinha assunto, mas, quando não, era melhor ainda. Tudo é assunto, desde que você tenha as palavras e a coragem para usá-las.

Sem a petulância de me arvorar a ser um Rubem Braga, mas, pela necessidade de escrever, me lanço, pois, no universo das palavras que, às vezes, se me oferecem, e que, em algum momento, fogem de mim, como o diabo da cruz. Mas, se tenho que escrever, vamos botar o pé na estrada, ou melhor, os dedos nas teclas e pedir aos deuses da literatura que conspirem em meu favor.

Vamos lá: Normalmente, inicio meu dia, por voltas das cinco horas (ou antes), quando faço meu café e tomo, assim como os meus remédios. Afinal, já próximo dos setenta – são 68 anos de idade – não dá para ficar sem eles, rezo o santo terço, vou à santa missa na Capela do colégio Santa Marcelina, às seis e, depois faço minha caminhada, para impedir que a ferrugem corroa o metal das articulações.

Será que é de bom tom dizer que cresci em um ambiente católico, que é essa minha formação, que acho a liturgia de minha Igreja muito linda e rica e, que me orgulho muito desse pertencimento? Não sei. Sinceramente, não sei, pode ser que seja acusado de preconceituoso, que Deus está em todo lugar, que isso e que aquilo. Mas, eu não disse nada questionando outros credos, seitas. Mesmo porque tenho respeito por aqueles que professam uma fé. Imagino infelizes, aqueles que não têm um norte, um rumo, uma direção. Ateus, por exemplo. Conheço alguns que se dizem agnósticos, e nem por isso são pessoas más. Pelo contrário: de boa índole, caráter, sinceros, fiéis às suas percepções. Não sejamos ingênuos, pois há também as seitas satânicas. Sim. E pasmem: que prestam culto a satanás, que fazem jejum por ele e que o adoram.

Como tudo, hoje, deve seguir uma linha do politicamente correto, um dia desses, um conhecido me encontrou nessas andanças e com muito cuidado, para não incorrer em etarismo, me disse que eu deveria caminhar menos tempo e um percurso menor, pois não é aconselhável uma hora e meia de atividade e, que meia hora, seria o suficiente.

Agradeci, claro, sua sugestão, apesar de pensar que isso depende mais da condição de cada um, mas prometi para mim mesmo que falaria com o médico numa próxima consulta que nem sei quando acontecerá, embora entenda que um geriatra pode contribuir bastante à essa altura do campeonato da terceira idade, cujo adversário é sempre você mesmo.

Depois da caminhada, uma boa ducha. Aí vou ler ou escrever sobre algo. Isso, quando o sono não vem na contramão e me projeta no sofá ou tapete da sala. Para o restante do dia, não há uma rotina. Pode ser para pagar boletos, se no princípio do mês ou para alguma atividade doméstica como organizar a casa, regar minhas plantinhas, preparar ou ir a um restaurante para atender o apelo do estômago e, à noite, como não tenho tido paciência para TV, quase sempre o sono me espera na portaria do prédio e sobe comigo pelo elevador. Tento driblá-lo, subindo os 79 degraus que dão acesso ao quinto andar, imaginando que ele possa se interessar por outra pessoa, possa se dispersar com algo e não adentrar meu apartamento.

Sabe que, às vezes, até funciona! Muitas vezes, o ludibriado sou eu. Ele me acompanha até ao leito e depois, sem mais nem menos, se vai, me deixando a brigar com os lençóis madrugada a dentro. Coisas da idade, creio. Mas não posso dizer isso de outra pessoa, pois cabe processo. Sim, agora é tudo desse jeito dessa forma.

Disse outro dia, que ando muito sentimental, vou facilmente às lágrimas ao ouvir um testemunho de superação, nas redes sociais, uma banda de música a tocar – a música, sempre me emocionou – uma saudade, o encontro com uma pessoa amiga, um gol, uma poesia, uma lembrança... quando meu interlocutor disse: “Isso é normal, na verdade, estamos envelhecendo e nos tornamos mais sensíveis. Lembra-te de nosso pai, interrogou ele”. Sim, me lembro. Também, tio Zezé, Zé Luiz (irmão), pode ser que sim, acrescentei.

Mas não me dei por vencido, e naquele mesmo dia, conversando com outra pessoa, falando da mesma situação, veio a pergunta: “Como assim”? E para não ter que dizer as mesmas coisas (um testemunho, uma música, uma saudade...) eu disse: “Se passar uma borboleta voando aqui, agora, é o bastante”! E com esse gracejo, encerrei a questão.

    A verdade é que o mundo tem me assustado muito ultimamente: guerras e outros conflitos que geram mortes, violência de todo tipo; algum político – a maioria, talvez – têm me causado asco, um tipo de enojamento, situações que põe as tendências comportamentais e culturais da sociedade em evidência. É o caso, dos bebês reborns, bonecas hiper-realistas tratadas como filhos e que provocam reações e debates acalorados nas redes. “Existe uma dimensão performática clara, que vincula a estética infantilizada ou jovial a curtidas, comentários e alcance nas plataformas”. Diante de tanta polêmica quais os limites entre o bem-estar e o escapismo. Não há problema em alguém colecionar bonecos se há suporte emocional. Mas quando a substituição de vínculos humanos por objetos compromete a integração social, é preciso cuidado”, observa Cláudio Paixão, doutor em psicologia Social pela USP.

    Não está fácil trafegar com segurança pelo caminho natural. Oportunistas sempre existiram: gaiatos que tentam ludibriar pedestres com truques dos mais diversos ou alguém que conta uma história tão triste quanto falsa, a fim de comover os desavisados. Todo dia se escuta uma história de alguém que teve seu pé-de-meia raspado. Que tipo de gente monta uma estratégia e faz um jogo de cena para faturar em cima da fragilidade emocional de alguém?

   São golpes contra a Dona Maria, que acreditou, através de um teatrinho telefônico, que sua filha havia sido sequestrada e pagou o resgate fajuto com o dinheiro que havia guardado para uma cirurgia. São golpes contra o seu José, que chegou aos 70 anos sem nunca ter ido ao Rio de Janeiro, e para realizar o sonho, caiu na lábia de alguém que se passava por agente de turismo. São golpes contra quem aluga uma casinha de veraneio para passar as férias com a família e, chegando lá, só encontra um terreno baldio. São golpes contra quem acredita que poderá triplicar seus trocados e investe sobre os conselhos de um picareta que diz ser especialista no mercado financeiro, mas é apenas expert em limpar a conta dos outros.

       De tal forma, a tecnologia facilita esses golpes que eles se tornaram pandêmicos. Viramos um mundaréu de desconfiados, neuróticos, sempre de pé atrás de tudo e todos. Nem em rostos e vozes dá para acreditar, podem ser fakes também. É neste planeta manipulado, ávido em nos passar a perna, que a gente vive e luta para manter a sanidade. Exilar-se em uma praia deserta seria uma solução, se ainda existissem praias desertas. Até aqui, eu acreditava que todo progresso vinha acompanhados de desafios e que era só uma questão de ajuste. Gosto muito de um pensamento: “É fácil ver o mundo evoluir-se e estas sentado diante dele. Mas, muito mais excitante é estar envolvido nesse processo”. Daqui para frente, já não sei, o otimismo largou minha mão.

    Mesmo diante de tanta incredulidade, onde ninguém mais atende uma ligação com número desconhecido, me dê um voto de desconfiança e caminhe conosco ao longo desses dias de julho!

O Editor.

 
 
 

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