10 –DIA DOS PAIS: ENTREVISTA COM O PAI MAIS IDOSO DE CACHOEIRA
Fernando Mauro Ribeiro
10 de ago.
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Atualizado: 12 de ago.
Ser pai é uma jornada de amor incondicional, responsabilidade e educação. É ser exemplo, guia e porto seguro para os filhos, oferecendo apoio, proteção e carinho em todos os momentos. É um privilégio que traz alegria, aprendizado e certeza de um vínculo eterno.
Celebramos hoje o Dia dos Pais. Nas Igrejas mensagens de carinho, brindes e músicas para destacar a importância da data. Aqui, em Cachoeira Alegre não foi diferente, na Igreja-matriz São Sebastião, nosso pároco falou do quanto é especial a figura paterna: “Seu amor e dedicação são inspirações que levamos para a vida toda”, disse ele.
Em um dado momento de minha vida recebi a seguinte mensagem: “Não é sangue que faz um pai, mas sim sua capacidade de amar aquele que chama – que ama – como um filho. Um pai tem a sabedoria de um mestre e a sinceridade de um amigo. Feliz Dia dos Pais". Fiquei bastante feliz, claro. Mesmo porque me identifiquei com o texto.
Meu pai, hoje, já se encontra perto do nosso Pai Maior, que é o Criador do Céu e da terra. Eu creio na vida eterna e porque acredito, faço tal afirmação. Tantas vezes pude dizer ao meu pai que esteve conosco durante 98 anos que o amava. Às vezes, com o intuito de expressar nosso sentimento tentamos elaborar uma frase forte para descrever nosso amor, uma afirmação que possua grande impacto emocional, quando para ele, basta: “Eu te amo”.
Mais que isso, nossos gestos, atitudes, nossos atos falam mais que palavras. O pai nos observa. Na verdade, o amor de pai é um sentimento profundo e complexo, caracterizado por um vínculo incondicional ente pai e filho, que envolve proteção, cuidado, apoio e dedicação.
É um amor que se manifesta de diversas formas, seja através do suporte emocional, da transmissão de valores, ou da construção de um ambiente seguro e acolhedor.
Nas entrelinhas, aprendi a ler muito do que meu pai vivia, como por exemplo: “Cada passo que você dá, por menor que seja, te aproxima dos seus sonhos” e também: “O que você planta hoje definirá a sombra em que descansará amanhã”.
Se eu tivesse que homenagear meu pai através da música, eu teria uma lista enorme, do tipo: “Naquela mesa” de Sérgio Bittencourt para homenagear seu pai, Jacó do Bandolim; “Meu querido, meu velho, meu amigo” de Roberto e Erasmo Carlos; “Meu velho” interpretação impecável de Altemar Dutra; “Assum preto” Luiz Gonzaga – que meu pai assoviava enquanto realizava alguma tarefa - e há tantas outras. Mas, eu o homenageio o ano inteiro, à medida que canto essas canções e me vêm à mente, a sua figura. São memórias, lembranças de um passado que por todo o sempre permanecerão em mim.
Para homenagear a todos os pais, fomos conversar com o senhor José Alves Pinheiro – seu Zezinho Pinheiro – o pai mais idoso da Comunidade o que resultou nesse papo agradável que você pode ver a seguir:
ENTREVISTA COM O SENHOR ZEZINHO PINHEIRO
A casa simples, modesta e acolhedora abriu as portas para uma entrevista com esse senhor de fala mansa, pausada a quem conheci há algumas décadas, em seu vigor físico, quando o atendia no balcão da antiga venda de meu pai.
O corpo um pouco curvado – para me ouvir, creio – mas aparentemente esguio, expõe o cansaço dos 96 anos, os percalços enfrentados, os desafios vencidos, a debilidade evidente com a perda total da visão, mas também a energia necessária e eu diria até que a exuberância ao acomodar no peito a sanfona 80 baixos e extrair do instrumento, sons que remetem ao frescor da juventude. Foi, pois, nesse cenário que conversei com o senhor Zezinho Pinheiro.
Novo Tempo: Eu sou o Fernando. Filho de seu Joaquim Ribeiro, vim para fazer-lhes uma visita e conversar um pouquinho com o senhor. Pode ser?
Sr. Zezinho: Pode sim. É um prazer, pode sentar-se aí!
Novo Tempo: O senhor é o pai mais antigo de Cachoeira Alegre. Quando o senhor faz aniversário?
Sr. Zezinho: Eu sou de Cachoeira Alegre, nasci no dia 10 de setembro de 1929. Tinha 24 anos de idade quando me casei na antiga igreja de Cachoeira, tivemos seis filhos, quatro netos e dois bisnetos.
Novo Tempo: O senhor sempre trabalhou na roça e, quando se casou veio morar aqui?
Sr. Zezinho: Eu era ainda moço e já trabalhava no roçado. Morava aqui, casei e criei aqui a minha família. Sempre trabalhei na lavoura, plantei arroz, milho, feijão e outras coisas, mas a lavoura acabou. Tudo virou pastagem para o gado.
Novo Tempo: E sua companheira, a sanfona, quando começou a tocar
Sr. Zezinho: Eu comecei a tocar depois de casado e aprendi sozinho.
Novo Tempo: E não parou mais, não é mesmo? O senhor toca até hoje?
Sr. Zezinho: Não parei mais. Toquei por muitos anos na Folia de Reis do Mario Jaques, do Benjamim e do Jair Guimarães.
Novo Tempo: E os bailes na roça, onde os sanfoneiros eram muito requisitados para a festa de casamento e outros eventos?
Sr. Zezinho: Toquei também nos bailes de casamento, nas toldas, no terreiro de chão batido, nas noites de sereno, Festas juninas.
Novo Tempo: A música tem o poder de nos transportar para outros ambientes, de viajar. O que o senhor sente quanto toca a sanfona?
Sr. Zezinho: Me sinto importante, sinto leve.
Novo Tempo: Nossa música é muito rica: “Luar do sertão”, “Asa Branca”, “Tristeza do jeca” Há alguma música específica que o senhor gosta de tocar?
Sr. Zezinho: As músicas de Luiz Gonzaga.
Novo Tempo: a perda da visão aconteceu quando? O senhor se locomove bem dentro de casa, vai ao quintal sentar-se nesses bancos de madeira, à sombra das árvores?
Sr. Zezinho: Tenho dificuldades, a casa tem degraus. No quintal também não vou. Pode acontecer de cair e aí vão dizer: “O senhor sabe que não pode ir. O que foi fazer lá”? É melhor evitar.
Novo Tempo: Quero agradecer o senhor por essa nossa conversa. Vou publicar no jornal. Aí, os filhos, netos e outros parentes vão ter notícias do senhor. Tá bom assim?
Sr. Zezinho:Tá bom assim. Eles vão saber lá em Teresópolis também?
Novo Tempo: Sim. Muita gente vai ver também as fotos e vídeos do senhor!
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