02 - MANGUEIRA DENUNCIA A VIOLÊNCIA: “À FLOR DA TERRA – NO RIO DA NEGRITUDE ENTRE FLORES E PAIXÕES”
Fernando Mauro Ribeiro
2 de mar.
4 min de leitura
“Com feridas abertas de um passado presente, persistem desaparecimentos e silenciamentos de uma juventude marginalizada e negra”.
“O alvo que a bala insiste em achar”.
Esses, são trechos do samba enredo deste ano da Mangueira. “O alvo que a bala insiste em achar”, virou a manchete do jornal Extra de ante ontem, para contar a história de Igor Melo, 31 anos, que trabalha como garçom, é funcionário da Faculdade Celso Lisboa e tem e tem um blog sobre o Botafogo.
Na madrugada de segunda feira, ele pegou uma moto de app, na Penha e, no caminho de casa, foi baleado nas costas por Carlos Alberto de Jesus que o acusou sem provas de estar armado e ter participado do roubo do celular de sua esposa. Igor chegou a ficar sob a custódia policial no hospital e segue internado em estado grave. Também acusado sem provas, o motociclista Thiago Marques foi preso e só saiu da cadeia três dias depois.
Quem é Igor Melo de Carvalho? O jornal carioca Extra, buscou informações e descobriu que ele pode ser descrito de várias formas. Aos 31 anos, é casado, pai de um filho pequeno, estudante de jornalismo e publicidade, dono de um canal no Youtube, inspetor de alunos no Centro Universitário Celso Lisboa, garçom e vendedor ambulante. Mas, segundo a família e os amigos uma outra característica do trabalhador fez com que todas da lista acima perdessem importância e o levou a ser baleado nas costas: é negro.
Igor se encaixa num levantamento do ISP Instituto de Segurança Pública, sobre vítimas de disparo de armas de fogo no estado em 2023 – sete em cada dez (70,2%) eram pretas ou pardas.
MULHER FEZ ACUSAÇÃO
O drama de Igor, que perdeu um rim e, encontrava-se internado em estado grave, começou por volta da manhã de segunda-feira, logo após pedir uma corrida de moto por aplicativo na Penha, Zona Norte do Rio. Ele tinha saído de uma casa noturna na qual serve bebidas e quitutes, e, minutos depois, o PM da reserva Carlos Alberto de Jesus abriu fogo em direção a ele e ao piloto Thiago Marques, de 24 anos.
Na 22ª DP (Penha), o militar disse que sua companheira, Josilene da Silva Souza, tinha reconhecido os dois como autores do roubo de seu celular, ocorrido horas antes.
Também ouvido pela Polícia, o patrão de Igor afirmou que o garçom trabalhou uniformizado da tarde de domingo até momentos antes de chamar a moto que deveria leva-lo para casa. Ele disponibilizou gravações de câmeras de segurança que comprovam isso. Mesmo assim, Igor foi hospitalizado sob custódia policial.
-Meu primo está com um policial ao lado dele, no hospital. E o casal que fez isso? O cara era da Polícia. Ele saiu atirando no primeiro preto que viu? Questionou a historiadora e produtora cultural Pâmela Carvalho.
Ele botou a arma para fora e puxou o gatilho. Minha reação foi me jogar no chão. Depois, vi que o carro parou um pouco mais à frente. Eu corri, levantei o passageiro que estava comigo, fomos para trás do carro pulando o viaduto. Fugimos porque ele voltou para matar a gente. Thiago, o motociclista, contou também, que na Delegacia, chegou a ajoelhar-se diante de Josilene, implorando para que ela não o acusasse falsamente. Eu estava trabalhando, argumentou ele, diante de Josilene.
SAMBA É LEMBRADO: Protestos contra o ataque a Igor e Thiago tomaram as redes sociais. Muitos internautas fizeram coro às alegações de que a ação foi resultado de preconceito racial e citaram a letra do samba enredo da Mangueira, desse ano, “À flor da terra - No Rio da negritude entre flores e paixões” que tem o verso “O alvo que a bala insiste em achar”.
ENREDO BEM ATUAL: O enredo da Escola de Samba tem um trecho que aborda a violência sofrida por grande parte da população carioca: “Com feridas abertas de um passado presente, persistem desaparecimentos e silenciamentos de uma juventude marginalizada e negra”.
ESPOSA SE MANIFESTA: Mulher de Igor, Maria Moura, disse não ter dúvida de que o marido foi baleado por preconceito: “Está acontecendo uma injustiça aqui, um ato de racismo. A bala atinge sempre um corpo preto”.
SOCORRO DE COLEGAS: Mesmo ferido, Igor conseguiu ligar para colegas de trabalho, que foram ao local do ataque e o levaram ao hospital Getúlio Vargas. Todos afirmaram que ele tem conduta exemplar e contaram que o amigo não conseguiu entender porque havia sido baleado.
RICHARLISON: O caso ganhou repercussão nacional. O jogador Richarlison se manifestou: “Queremos os nossos jovens negros vivos, em liberdade, não sendo alvos de injustiças e violências raciais”
ANIELLE FRANCO (Ministra da Igualdade Racial) O futebol precisa lutar pelos sonhos e por justiça, por Igor Melo.
Assim como o BOTAFOGO de Futebol e Regatas, (time de Igor)
O casal já mudou sua versão em depoimentos a delegado da DP da Penha. O motociclista teve alta, Igor permanece hospitalizado e o casal tranquilo, em liberdade. Talvez brincando o Carnaval, ou quem sabe em alguma praia do litoral. E suas consciências? Aí é com eles, né!
O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO... E VIOLENTO
O que sei que o país do Carnaval tem suas mazelas e, que o Rio, porta de entrada para o Brasil e, que ontem completou 460 anos, continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo... como disse o então jovem, Gilberto Gil, quando deixava o país, perseguido pelos militares no período da ditadura, quando teve que se exilar.
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